JESSÉ SOUZA

Bambam apanhando de Popó, enquanto Educação é nocauteada em silêncio

De 2010 a 2021, orçamento das instituições sofreu um corte de 37% em matéria de custeio e cerca de 70% para investimento (Foto: Divulgação)

Uma notícia preocupante, mas que não costuma ganhar ampla repercussão, arrebanhando uma indignação coletiva, passou acanhada nesta segunda-feira: o protesto de estudantes da Universidade Federal de Roraima (UFRR) contra a retirada do ônibus que faz o transporte de 200 acadêmicos para o campus Cauamé, localizado na zona rural de Boa Vista.

Quando se trata de Educação, então significa que estamos diante de um sério problema, pois diz respeito ao futuro de nossa sociedade. No entanto, as pessoas fingem demência ou desimportância, como se o tema não fosse revestido de relevância alguma. Enquanto isso, o assunto “Bambam apanhando de Popó” continua repercutindo como algo de primeira grandeza ou de relevância nacional.

Além do problema não provocar qualquer alarido que encontre eco na sociedade, não se trata de algo novo. Desde o governo passado, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) vem sofrendo cortes e bloqueios, deixando reitores de universidades federais em pânico diante da incerteza de poderem continuar pagando despesas básicas, como água e luz, ou de continuarem mantendo os cursos.

A crise segue neste ano de 2024 e não é setorizada. A Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), entidade que reúne 69 universidades e dois institutos federais, inclusive já se posicionou indignada sobre o orçamento aprovado para 2024, pois o montante aprovado pelo Congresso Nacional é ainda menor que o do ano anterior, com redução de R$ 310 milhões.

Então, não se trata apenas de corte de ônibus para estudantes da UFRR. Outras instituições também estão fazendo das tripas coração (como nossos avós diziam), a exemplo do Instituto Federal de Roraima (IFRR), especialmente nos campi localizados no interior do Estado, onde faltam recursos para necessidades básicas, como alimentação, transporte e alojamento, o que pode provocar sérios reflexos, inclusive forçando estudantes de baixa renda a desistirem do sonho de sua formação.

Os cortes vêm de longas datas. Conforme a Andifes, entre 2010 e 2021 o orçamento das instituições sofreu um corte de 37% em matéria de custeio (verbas destinadas ao pagamento de bolsas e despesas como água, luz, limpeza e vigilância) e cerca de 70% para investimento (dinheiro para conclusão de obras e expansão). São poucos os políticos a discutirem essa realidade, porque ninguém liga para essa tragédia anunciada.

Os reitores têm corrido com o pires na mão atrás dos parlamentares, mas eles ignoram ou se escondem. Para se ter uma ideia, a bancada federal roraimense nunca conseguiu se reunir até hoje em sua totalidade. Quando reitores procuram a bancada para discutir orçamento para as instituições de ensino, eles correm como o diabo corre com medo da cruz. Um ou outro ainda se dispõe a alocar algum recurso para o ensino superior. A maioria sequer aparece para a reunião convocada pela bancada.

Mas não se trata de simples desinteresse. Os políticos sabem o que estão fazendo. Porque a Educação é a única salvação para mudar esse cenário da politicalha. Sabendo disso, cortes e descaso com a Educação não são por acaso. Eles sabem que é melhor um povo preocupado com socos dados por Popó no Bambam do que com a Educação sendo sucateada a cada governo, nocauteada em pé, mas que ainda resiste bravamente aos duros ataques.

*Colunista

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