JESSÉ SOUZA

Bebês seguem morrendo enquanto situação da maternidade de lona se arrasta desde 2021

A maternidade Nossa Senhora de Nazareth funciona de forma temporária no local onde era o Hospital de Campanha (Foto: Marília Mesquita/Folha BV)
A maternidade Nossa Senhora de Nazareth funciona de forma temporária no local onde era o Hospital de Campanha (Foto: Marília Mesquita/Folha BV)
Maternidade funciona de forma temporária na estrutura que era do Hospital de Campanha (Foto: Marília Mesquita/Folha BV)

Infelizmente, não se trata de caso isolado a morte de três recém-nascidos no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, na semana passada, conforme denunciou um médico para a FolhaBV. Enquanto não se tem divulgação oficial sobre mortalidade neonatal, não custa relembrar a situação de mães que seguem dando à luz em uma maternidade funcionando de maneira improvisada em um local coberto de lona.

Conforme esta coluna informou no mês de fevereiro, este ano de 2023 começou com 28 bebês mortos em janeiro, do total de 890 partos realizados no HMI. Foram 11 óbitos fetais e 17 óbitos neonatais. As estatísticas de 2022 já haviam revelado dados preocupantes sobre a infância roraimense no que diz respeito a mortes de bebês antes de completar um ano de idade.

Dados do Núcleo do Sistema de Informação e Vigilância do Óbito (NSIVO) do Departamento de Vigilância Epidemiológica (DVE), subordinado à Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), aponta que, durante o ano de 2022, morreram 221 crianças antes de completar um ano de idade. Foi quase um bebê morrendo por dia em Roraima!

Desde 2021 a maternidade pública de Roraima está funcionando debaixo de tenda, quando o prédio do Hospital Materno Infantil foi fechado para que o Governo do Estado desse início às obras de reforma e ampliação, as quais nunca foram concluídas até os dias atuais, revelando o completo descaso com a situação da infância roraimense e suas mães.

Vale ressaltar que se tratou de um ano atípico, de campanha eleitoral antecipada ou disfarçada e, também, de um inverno rigoroso, quando o frágil teto da maternidade de lona desabou algumas vezes sobre as pacientes durante as chuvas, conforme vídeos amplamente divulgados nas redes sociais, à época, nos quais apareciam mães em desespero, perambulando pelos corredores na busca por abrigo para seus recém-nascidos.

Enquanto governantes e parlamentares estavam mais preocupados com seus conchavos, o Governo do Estado perdeu quatro emendas parlamentares, no valor de R$ 16,8 milhões, destinadas à construção de alas hospitalares, salas de administração e emergência, centro cirúrgico, cozinha, refeitório e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Até hoje ninguém se explicou sobre isso.

Esse infanticídio está na conta de todos os políticos que nada fizeram ou ficaram no corpo mole para resolver a precária situação da maternidade de lona. Com quase dois anos de atraso, a Assembleia Legislativa só veio tomar uma decisão no início deste mês, quando os deputados aprovaram o projeto de lei autorizando o governo a abrir crédito especial de R$ 15 milhões para a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) concluir as obras de reforma da maternidade.

Os fatos estão aí, todos amplamente divulgados pela imprensa e de conhecimento das autoridades. O único fato que segue oculto da opinião pública são os números de recém-nascidos mortos este ano no berçário da única maternidade pública do Estado debaixo de tendas. Mas o número de covas de corpos de bebês enterrados no cemitério fala por si só.

*Colunista

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