Bike e trânsitoAs mortes que ocorreram em ciclovias recém-implatadas na cidade de São Paulo, no mês passado, servem de alerta para Boa Vista, que está em vias de implantar ciclovias e ciclofaixas, conforme projeto que chega à casa dos R$60 milhões. Se não houver não apenas planejamento, mas principalmente um ordenamento completo no trânsito, isso poderá custar a vida de pedestres ou mesmo ciclistas.
O fato é que, historicamente, as bicicletas vêm competindo com veículos automotores, obviamente representando a parte mais fraca no trânsito. Muitos ciclistas, sem noção alguma de trânsito, se aventuram pelas apertadas ou largas ruas e avenidas de Boa Vista, principalmente na vias arteriais que ligam os bairros ao Centro e vice-versa.
As ciclovias chegarão para ordenar esse caos. Porém, como ocorre em outras cidades, muitos condutores de veículos automotores acabam não querendo respeitar as sinalizações, achando que lugar de bicicleta é na calçada junto com pedestres ou que nem deveriam existir. Além disso, existem os ciclistas que resistirão à nova realidade, colocando sua vida e a de outros em risco.
Se não houver, antecipadamente, uma campanha de conscientização por parte de todos sobre a bicicleta como meio de transporte, lazer e esporte, aliado a um ordenamento no trânsito, com monitoramento de velocidade dos veículos automotores, bem como ampla sinalização, fatalmente os acidentes irão custar a vida da parte mais desprotegida no trânsito.
De longas datas, ciclistas são vistos como empecilho no trânsito, pela sua própria condição de ignorância sobre as regras e leis, por parte da maioria, e pela falta de sinalização e ciclovias. Logo, será difícil desfazer, de uma hora para outra, essa realidade, incluindo aí o desrespeito por parte de condutores de veículos automotores.
Existem ainda os motociclistas e condutores de bicicletas motorizadas, que certamente se acharão no direito de também utilizar indevidamente as ciclovias, bem como os pedestres desavisados e condutores de carros trogloditas que estacionam em qualquer lugar.
Isso já aconteceu uma vez, quando existia uma imensa ciclovia na Avenida Ataíde Teive, na década de 90, que simplesmente desapareceu por causa de todos esses problemas acima citados, mas principalmente pela ausência do poder público que não cuidou do espaço destinado exclusivamente aos ciclistas.
Então, antes da implantação de ciclovias e ciclofaixas, já é hora de as autoridades de trânsito irem pensando em enfrentar a nova realidade, em que certamente haverá muita resistência por parte de condutores e ignorância provocada pelo desordenamento a que o trânsito ficou submetido por longos anos. Não precisa antes morrer gente para que os problemas sejam discutidos e solucionados. Basta agir com antecipação.