A novidade é a operação da Polícia Federal como desdobramento de investigações anteriores que correram sob sigilo, mas o fato e seu contexto são de um passado bem recente, mais precisamente do auge do período da pandemia de Covid-19, quando uma epidemia de corrupção ocorreu não só em Roraima, mas também em todo o país.
A Operação Fullone, deflagrada nesta quinta-feira, 16, pela PF, diz respeito às investigações sobre um suposto esquema de desvios de recursos públicos destinados à contratação de uma empresa pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), ocorrida durante os anos de 2019 e 2020, para a prestação de serviços de lavanderia em todas as unidades de saúde de Roraima.
A suspeita de corrupção, em si, nem causa tanta surpresa. Surpresa mesmo é a investigação envolver um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o filho dele – que é o proprietário da empresa investigada – e mais um juiz estadual, sobre o qual recaem suspeitas de tomar decisões para beneficiar a empresa. O suposto esquema teria desviado quase R$ 26 milhões da saúde pública.
Aquele período de 2019/2020, quando haviam morrido duas mil pessoas vítimas de Covid, foi marcado por denúncias de corrupção, falta de medicamentos, de equipamentos e até de materiais básicos para cirurgias. No fim de 2021, como forma de alegar que estava enfrentando a crise, o governador Antonio Denarium foi para a imprensa afirmar que investiu mais de R$ 2 bilhões na saúde pública roraimense.
De fato, muito dinheiro, mas com poucas respostas positivas. A propósito, o primeiro governo de Denarium foi marcado por seguidas trocas e demissões de secretário de Saúde, quando o primeiro se demitiu denunciando um intrincado esquema de corrupção endêmica que envolvia empresários, médicos e políticos, o que motivou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pela Assembleia Legislativa de Roraima.
A imprensa parou de contar a mudança de secretários de Saúde quando o número chegou a dez exonerados. Depois ninguém mais lembra do total. No bolo da crise, ocorriam escândalos de repercussão nacional, como o dos respiradores, quando a Sesau pagou os equipamentos antecipadamente, os quais não foram entregues ao Governo de Roraima, enquanto pacientes morriam no Hospital Geral de Roraima (HGR) por falta de respiradores.
Foi nesse mesmo tempo que ocorreu uma operação da PF em que os agentes, durante busca e apreensão, encontraram R$ 33 mil na cueca de um senador, outro caso que ganhou uma vergonhosa repercussão nacional. Essa operação se referia à denúncia de desvio de R$ 20 milhões de verbas da Covid-19 enviadas pelo Governo Federal para a Sesau.
Ainda em 2020, a Cooperativa Brasileira de Serviços Múltiplos de Saúde (Coopebras) foi investigada por suspeita de desviar R$ 30 milhões da saúde pública de Roraima durante anos de contratos para fornecer serviços médicos, conforme apontou a Operação Hipócrates realizada pela Polícia Civil, que investigou o núcleo administrativo da entidade.
Outros escândalos se seguiram, sendo o último do ano passado a Operação Esculápio, deflagrada pela PF, em agosto, que apontou um esquema praticado por um grupo que fraudava licitações na Sesau para a compra de materiais odontológico para o HGR e que ainda desviava pacientes para uma clínica particular, inclusive os orientando a procurar a Justiça a fim de obrigar o governo a pagar por procedimentos em clínicas particulares.
Enquanto mais uma operação policial se desenrola neste momento, fazendo voltar à tona os escândalos, os quais são esquecidos pela opinião pública, servidores da Saúde ameaçam entrar em greve por melhores condições salariais e a população roraimense continua por três anos sendo submetida a uma maternidade coberta de lona, sem que isso escandalize mais ninguém.
*Colunista