Chegamos a Boa Vista, eu e o Alexandre Magno Rodrigues de Oliveira, meu filho, em junho de 1981. Saímos do Rio de Janeiro diretamente para Roraima. No dia seguinte à nossa chegada nos encontramos, e fizemos uma grande amizade, com meu saudoso amigo Adair J. Santos. Pouco tempo depois, antes de nos assentarmos na Confiança I, no Cantar, fomos passar uns tempos na fazenda do amigo Adair, no Alto Alegre. Chegamos lá e entramos na casinha simples, mas confortável, no estilo fazenda desocupada. E imagine o que nos aconteceu, logo na entrada. Ao pé da parede estava um jabuti, parecendo cismado com a chegada dos estranhos. Eu e o Alexandre nunca tínhamos vista um jabuti, assim de perto. Ficamos preocupados pelo coitado ter ficado tanto tempo preso ali, sem alimento. O Alexandre foi até o jabuti, fez um esforço danado para pegar o cara, com medo de ser atacado. Finalmente criou coragem, agarrou o jabuti e resolvemos alimentá-lo. Mas, como? Aí, inteligentemente, sugeri que o levássemos para fora da casa.
Como ainda não tínhamos tomado conhecimento do local, refletimos e resolvemos leva-lo até o igarapé. Saímos carregando o jabuti bem distante do corpo, como se estivéssemos levando uma tigela cheia de águe quente. Finalmente chegamos ao igarapé que ficava bem próximo da residência. O gramado era maravilho. Um cenário encantador. Paramos e discutimos o que fazer a partir dali. Já era quase hora do almoço que ainda teríamos que fazer. Foi aí que decidimos a mais importante e inteligente decisão de nossas vidas: resolvemos deixar o jabuti comendo a grama e voltarmos às cinco da tarde, para levá-lo de volta para casa. Estava decidido. Pusemos o jabuti sobre a grama, ele ficou paradinho como se tivesse entendido nossa conversa. E o que ele queria era se disfarçar, mas sem sorrir.
Deixamos o jabuti ali sobre o gramado e fomos cuidar da nossa refeição. Com nossa experiencia, nem vou te cantar o que comemos naquele dia. Depois do “almoço” caminhamos em volta da residência, observamos com entusiasmo para decidirmos o que faríamos a partir dali, no início de uma vida que jamais imaginamos. Finalmente olhamos para o relógio e estávamos exatamente às cinco horas da tarde. Assustamo-nos e saímos quase correndo para o igarapé, e trazer o jabuti para casa. Chegamos e ficamos espantados. Nos olhamos e nos perguntamos: cadê o jabuti? O cara tinha sumido. Sumiu, e mesmo procurando-o até às sete horas da noite, até hoje nunca mais encontramos o jabuti safo. Pense nisso.
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