Jessé Souza

Caixa preta das invasoes 27 02 2015 672

Caixa preta das invasões – Jessé Souza* A questão fundiária em Boa Vista há muito tempo precisa ser passada a limpo a fim de que as injustiças sociais sejam corrigidas e para que a indústria da invasão de terras públicas e privadas possa ser coibida. Mas dificilmente haverá vontade política para colocar o dedo na ferida pelo fato óbvio de que sempre existiu motivação política por trás de tudo. Quem vive a realidade de Boa Vista sabe que existem pessoas de baixa renda ou desempregadas que precisam de moradia para abrigar suas famílias. E também é sabedor de que, no meio de pessoas que buscam nas invasões uma forma de realizar o sonho da casa própria, existem muitos  espertalhões que estão ali para invadir terrenos a fim de especular um bem que não lhes pertence. Na semana passada, vi um anúncio nas redes sociais oferecendo terreno na área conhecida como João de Barro, que fica no final do bairro Cidade Satélite, área esta que surgiu exatamente em período eleitoral. Liguei para buscar informações e a senhora que atendeu já iniciou afirmando que tinha dois terrenos, um por R$8 mil e outro por R$10 mil. Quando comecei a questionar valores e sobre os lotes, a mulher acabou confessando que tinha vários terrenos para vender, bastando que eu fosse lá para conhecer a localização e negociar valores. Em outras palavras, uma área que foi criada a partir de uma ocupação por supostos sem-tetos hoje abriga especuladores imobiliários. Hoje existem várias áreas de invasão cuja posse está sendo reivindicada pelos ocupantes, quase todas surgidas em período eleitoral, quando candidatos e políticos dão apoio e prometem regularização dos imóveis invadidos. Aliás, Boa Vista se expandiu desta forma, com linhas de frente de invasões ocupando áreas devolutas ou que pertenciam a políticos ou postulantes a cargos públicos, os quais deliberadamente trocavam lotes por votos. Muita gente se beneficiou da indústria da invasão especulando áreas ocupadas, organizando invasões a áreas devolutas ou permitindo ocupações em lotes particulares, geralmente em nome de testas de ferros de políticos. É por isso que a questão fundiária em Boa Vista tornou-se uma “caixa preta” difícil de ser aberta, pois há muita gente graúda envolvida no esquema. O que se pode perceber é que as famílias que precisam de moradia acabam servindo de instrumento político e financeiro de especuladores imobiliários e candidatos eleitorais. E se isto não for combatido de forma austera, com apoio das autoridades, nunca Boa Vista conseguirá se livrar dos espertalhões. Bem que os vereadores poderiam parar de ficar brigando por mais subsídios extras e começassem a justificar os altos recursos que recebem. Já seria um bom começo. *Jornalista [email protected]