JESSÉ SOUZA

Carta de clemência de um político preso, pistolagem e a histórica impunidade

Sistema prisional brasileiro é marcado historicamente por denúncias de maus-tratos e falta de dignidade humana (Foto: Divulgação)

Se filhos de autoridades e políticos estudassem desde criança em escolas públicas, a educação pública seria de primeiro mundo. Se a impunidade aos ricos e influentes não reinassem no país, presídios também seriam humanizados e atenderiam ao que diz a legislação para que a ressocialização dos presos realmente funcionasse.

A carta divulgada pelo ex-senador Telmário, preso desde outubro de 2023 sob acusação de ser o mandante do bárbaro crime da mãe de sua própria filha, traz essa contatação do que é o sistema prisional brasileiro. De forma curta e grossa, é um depositário de gente e, por sua estrutura carcomida pela corrupção e desprezo político, um local insalubre e desumano em todos os sentidos. O político denuncia o tratamento desumano que tem recebido.

Telmário Mota nunca teve toda influência possível para se atingido pelas benesses de uma regalia vivida por muitos políticos brasileiros quando a Justiça os alcança. Porque contrariou interesses políticos e partidários, nunca acumulou riquezas suficientes para galgar tais privilégios dos intocáveis e… sempre teve histórico de envolvimento com casos policiais cabulosos.

O fato de ter sido absolvido pela Justiça da acusação de ter agredido uma amante do passado não é nenhum salvo conduto para que seus pleitos judiciais sejam atendidos para uma prisão domiciliar. O político tem uma pesada acusação de ter contratado o pistoleiro que executou com um tiro na cabeça a mãe de sua própria filha – à época uma adolescente e que o acusa de assédio sexual – que movia uma ação judicial pedindo pegamento de pensão alimentícia do ex-senador.

O que chama a atenção desse caso é que Telmário Mota é da linhagem de políticos que vieram de um passado não muito distante de pistolagem, quando interesses políticos e pessoais contrariados eram resolvidos na base do tiro, seja por meio de tocaias ou ataques sórdidos que tinham como garantia a impunidade. Tais políticos sempre tiveram o aval da intocabilidade, com os rumorosos casos nem sempre tendo o desfecho com a condenação dos mandantes.

O crime do qual o ex-senador é acusado segue os mesmos padrões daqueles tempos obscuros de execuções sumárias dos indesejados, que eram eliminados por pistoleiros previamente contratados a fim de silenciar algum adversário ou vingar-se por ter sido contrariado ou mesmo na disputa por bens, poder e suposta honra familiar ou pessoal.

Obviamente que Telmário tem todos os direitos humanitários assim como qualquer detento, seja rico ou pobre. Familiares de presos constantemente reclamam da situação do sistema prisional roraimense. A denúncia do ex-senador é só mais uma. Por isso é dever das autoridades apurar, com todo o rigor possível, a situação não só de Telmário, mas todos os demais tentos.

No mais, que ninguém pense que o período da pistolagem está chegando ao fim. Afinal, até hoje está em aberto o mais recente caso que vitimou o então candidato a prefeito do Amajari, Toinho da Ader, cujo político acusado de ser o mandante vai conseguindo se livrar da prisão. Sinal de que há tratamentos diferenciados, assim como ocorreu desde sempre na política roraimense do passado e do presente.

Quanto a Telmário, além da questão dos direitos humanos que ele reivindica, o que precisa ficar evidenciado nesse episódio é que um dia a Justiça pode chegar e cobrar a conta. Pelo tom da carta divulgada, fica evidenciado que ele jamais contava que pudesse ser alcançado, um dia.

*Colunista

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