JESSÉ SOUZA

Cena de faroeste caboclo, garimpo ilegal e o Dia dos Povos Indígenas

No Dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, a questão do garimpo ilegal precisa estar na pauta de discussões (Foto: Baleia)

Não há como falar do Dia dos Povos Indígenas, celebrado neste 19 de abril, sem lembrar do garimpo ilegal na Terra Yanomami, que se tornou um esquema milionário com ramificações em vários estados e explorado também por facções criminosas que atuam em todo o país. E tudo isso às custas de vidas indígenas e da preservação do meio ambiente, especialmente dos mananciais de água potável.

Embora muitos queiram ignorar a realidade, a semana foi marcada por mais uma ação da Polícia Federal, na quarta-feira, 17, por meio da Operação Houdini desencadeada simultaneamente nas capitais de três estados: Boa Vista (RR), Salvador (BA) e Serrinha (BA). Só aí é possível observar a extensão do garimpo ilegal como um crime bem articulado em várias frentes.

Os investigados são apontados como responsáveis pelo envio de mantimentos e armas de fogo via aérea para a Terra Yanomami, além de articularem o transporte dos minérios por meio de carretas para que sejam vendidos em outros estados. Para se ter a ideia do negócio milionário, a Justiça Federal determinou o sequestro de bens e valores de mais de R$ 25 milhões do grupo investigado.

Outro fato ocorrido no início da semana também é importante ser destacado para mostrar o crime aglutinado ao garimpo, que foi a prisão de um faccionado de 24 anos que andava ao estilo faroeste caboclo com revólver na cintura nas ruas do bairro Cidade Satélite, cena essa que tem se tornado corriqueira em outros bairros da Capital, conforme as ocorrências policiais.

Ao ser preso, o elemento confessou que era o responsável pela compra e envio de armamento para a região do garimpo no Rio Uraricoera, na Terra Yanomami, e também responsável por guardar drogas para a facção que ele integra, mostrando que todos os tipos de crime, de tráfico de drogas a tráfico de armas, estão ligados ao garimpo ilegal em Roraima.

Significa que o reflexo dessa atividade criminosa não impacta somente a vida dos povos indígenas, cujas desgraças já sabemos muito bem, mas de toda a sociedade na medida em que a garimpagem é financiada por agiotas e narcotraficantes, cujos reflexos podem ser sentidos na criminalidade nos centros urbanos, em que o faroeste caboclo é somente uma face desse grave problema.

Então, nesse 19 de abril, é importante não apenas enaltecer a luta, a cultura e autodeterminação dos povos indígenas, mas de cobrar as autoridades para que continuem combatendo a ação do crime organizado no garimpo ilegal, resgatando a dignidade e preservando a vida dos povos da floresta não só na Terra Yanomami, mas em outras terras indígenas invadidas por garimpeiros país afora.

Afinal, a ação de garimpos ilegais de ouro e outros minérios é uma questão social e ambiental gravíssima, cujas proporções alarmantes na Amazônia vão além da preservação da vida dos povos indígenas, como também da garantia de futuro para todos que vivem nessa região, indígenas e não indígenas.

*Colunista

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