A respeito do helicóptero que pousou em frente ao Pronto Socorro do Hospital Geral de Roraima (HGR) com um policial da Força Nacional de Segurança (FNS) baleado na perna, em tiro acidental, é bonito de ser ver ações para salvar a vida de alguém. Mas… é preciso analisar com mais critério esta inusitada situação que ocorreu na segunda-feira em local de intenso movimento e imprescindível para atendimento médico de urgência.
O ponto principal é que, pelos depoimentos de entrevistados pela imprensa local, o policial já havia recebido os primeiros-socorros, inclusive com torniquete para evitar hemorragia, o que demonstra que não haveria risco iminente de a vítima sofrer consequências mais graves, o que significa que a aeronave poderia ter sido direcionada para o Aeroporto Internacional de Boa Vistam, que fica a poucos metros dali. Pela distância do local do incidente, na Terra Indígena Yanomami, haveria tempo suficiente para se pensar em outras alternativas.
Caso houvesse algum motivo para impedimento de pouso no aeroporto naquele momento, que é muito improvável, existem outras áreas amplas e seguras para um pouso de socorro médico emergencial, a exemplo do Parque Anauá e do próprio lavrado do campus da Universidade Federal de Roraima (UFRR), os quais ficam a metros do HGR. Na pior das hipóteses, a imensa área aberta da Praça Fábio Paracat, também a poucos metros, seria outra opção.
O fato é que o pouso ocorreu em frente ao único Pronto Socorro de Urgência e Emergência do principal hospital do Estado, que é de referência e fica em uma das mais movimentadas vias da Capital, a Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes. Embora o tráfego tenha sido interrompido, as imagens mostram carros parados na sinaleira a poucos metros do helicóptero e outros estacionados no local do pouso, além de muita gente aglomerada.
Não só isso. Ficou interrompido o tráfego da única área de acesso a urgência e emergência do Estado, o que poderia significar o impedimento de socorrer outras pessoas que por ventura precisassem de acesso para atendimento rápido naquele mesmo momento. Fora os riscos a que ficaram expostos os condutores de veículos, pacientes e servidores do hospital, além de muitos transeuntes que gravaram tudo a poucos metros.
Não se trata de achar que o policial não merecia aquele tratamento e que os cuidados não tenham sido tomados devidamente. Afinal, qualquer cidadão em risco de vida tem esse mesmo direito. Não se trata também de querer desqualificar o operador da aeronave, que mostrou sua competência. Porém, não se pode desconsiderar os grandes riscos de uma operação desse nível diante do que se viu nos vídeos. Principalmente porque fechamos o ano de 2024 com tragédias aéreas que ceifaram muitas vidas. Erros mecânicos e humanos ocorrem, inclusive em situações inacreditáveis.
O local escolhido para o pouso é cercado por árvores, com fios de baixa e alta tensão, carros estacionados, além de outros fatores que aparecem nos vídeos publicados na imprensa e redes sociais. E isso precisa ser pontuado para que tal fato não se normalize. Além de tudo isso, chama atenção o fato de o principal hospital de Roraima não ter um heliponto, que inclusive já existiu no passado e não foi mantido nas seguidas reformas.
Ações como essa precisam ser refletidas sob todos os aspectos, principalmente quando se trata de colocar em risco a vida de muitas pessoas em uma ação que poderia ter sido evitada para o bem da segurança coletiva.
E mais: as autoridades confirmam que os envolvidos na operação tenha tomado todas as providências cabíveis, como determina a legislação, para garantir a segurança da operação, da aeronave e seus ocupantes e de terceiros?
*Colunista
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