Enquanto a polícia continua desencavando corpos em um cemitério clandestino onde faccionados venezuelanos enterravam seus compatriotas em covas rasas, no local que era para ser a mata ciliar do moribundo igarapé Pricumã, duas outras notícias não podem passar despercebidas pelos cidadãos verdadeiramente preocupados com a situação do Estado de Roraima.
Uma delas é a respeito do Município de São Luiz do Anauá, no Sul de Roraima, campeão das chamadas “emendas pix” ao receber R$ 109 milhões nos últimos em quatro anos, 3 665% acima da média nacional per capita. Apenas em 2023 foram R$60 milhões. Enquanto isso, o novo prefeito acabou de assumir e chegou decretando calamidade financeira ao encontrar apenas a raspa do tacho nos cofres públicos e milionárias dívidas.
A outra é sobre o Instituto Brasileiro de Cidadania e Ação Social (Ibras), entidade sediada em Boa Vista que foi campeã das chamadas “emendas secretas” destinadas pela bancada roraimense. Foi a que recebeu o maior empenho, entre os dias 2 e 21 de dezembro passado, totalizando R$ 28,9 milhões, sob a alegação de que promove os direitos humanos e o desenvolvimento da cidadania. A Ibras ainda recebeu emenda da bancada de Tocantins no valor de R$2,9 milhões.
Enquanto as mazelas são expostas pela criminalidade advinda da migração em massa e pela penúria dos municípios do interior, a cada ano é negociada nos balcões do Congresso uma bolada estratosférica de recursos públicos, que desde sempre alimentaram a corrupção sistêmica mantida entre as bancadas parlamentares, prefeitos de pequenos municípios e entidades criadas apenas para canalizar esses volumosos recursos que fazem falta para a sociedade.
O caso da Ibras continua repercutindo nacionalmente. Diante da ampla repercussão negativa sobre a entidade sediada em Roraima, a líder da bancada do Tocantins, a senadora Professora Dorinha (União), pediu para cancelar o pagamento da emenda de quase R$ 3 milhões do novo orçamento secreto para a Ibras, que foi destinada pelo deputado Eli Borges (PL-TO), que também chegou a pedir a retirada do repasse. Mas já era tarde. O recurso já foi pago.
Se o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, não tivesse determinado a suspensão do repasse das emendas, a Ibras já teria recebido os demais valores milionários, sendo R$ 3 milhões do deputado federal Albuquerque (Republicanos) pelo Ministério da Pesca, para “desenvolvimento da pesca artesanal”, e mais valores pela bancada de Roraima para o Ministério do Trabalho e Emprego: R$ 7,6 milhões para “projeto de qualificação social e profissional”; mais R$ 5,5 milhões para “projeto de qualificação social e profissional”; e ainda R$ 12,6 milhões para “projeto de qualificação social e profissional”.
É preciso destacar que, em 2023, o Ibras recebeu do Governo de Roraima R$17 milhões para realizar a Expoferr 2023, sendo R$ 1 milhão somente para o show do cantor Wesley Safadão; e R$8,8 milhões para o Arraial do Anauá. E ainda mais R$ 400 mil em contrato para executar um projeto de qualificação e empreendedorismo para mulheres através da Secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes). Lembrando que o recurso para Expoferr está sob investigação.
São muitas cifras sendo liberadas por meio de emendas nunca antes fiscalizadas e que vão parar nas mãos e nos bolsos de políticos, enquanto municípios do interior vivem na penúria, ao mesmo tempo em que a migração desordenada avança e produz cenas dantescas de corpos sendo desenterrados a poucos metros da sede da Superintendência da Polícia Federal e dos bairros dominados por uma facção venezuelana.
*Colunista
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