Cenas de uma guerra declarada Com direito a entrevista coletiva na semana passada, o Governo do Estado anunciou guerra ao crime organizado. Da forma que está a situação, significa o crime organizado contra um Estado desorganizado. Até aqui, os corpos executados desfilam na sala de estar de uma sociedade refém do medo.
Forçado a mostrar algo concreto para a opinião pública, o governo somente apresentou à opinião pública o óbvio: obras de um presídio no sul do Estado que nunca foram concluídas e o início do processo de licitação de outro presídio, na Capital, que foi anunciado com anos de atraso.
As operações policiais que resultaram na prisão das mulheres de membros de facção acabam não surtindo o efeito desejado porque, enquanto estas obras dos presídios não estiverem concluídas, os criminosos continuam dando as ordens dentro do sistema prisional sucateado.As revistas surpresas mostram isso, por meio das apreensões das anotações feitas por criminosos, celulares e drogas aos quais os presos têm acesso com certa frequência e facilidade. Os vídeos-conferências entre criminosos de outros estados continuam ocorrendo, conforme revelam os áudios divulgados por meio de Whats.
Do outro lado dessa realidade está o cidadão, que se sente indefeso e acuado no meio da criminalidade crescente. A ele só resta acreditar nas ações policiais e nos atos anunciados pelas autoridades no meio dessa guerra declarada.Mas essa guerra não pode ser apenas verbal. Além dessas operações policias e organização do sistema prisional, com construção de novos presídios, é necessário que o Estado invista em inteligência, cooperação entre as polícias, para minar a força do crime por meio do combate ao tráfico de drogas.
Como estamos numa área de fronteira, é imprescindível que o Governo do Estado busque apoio das autoridades federais para haver um controle de fato do tráfico de drogas e de armas nas fronteiras com a Venezuela e Guiana. E o momento é este, já que a imigração venezuelana exige rigor no controle e identificação de quem está entrando para o Brasil.
Se não houver ações continuadas para centrar os esforços nessas ações, incluindo a corrupção dentro do sistema de segurança, essa guerra declarada ficará apenas no verbo e, de fato, continuará sendo o crime organizado contra um Estado desorganizado. E os corpos executados e os presídios comandados por bandidos permanecerão como símbolo de uma sociedade vencida e acuada pelo crime. *[email protected]: www.roraimadefato.com.br