JESSÉ SOUZA

Cenas repetidas de inverno e uma enxurrada de cifras anunciadas desde 2021

Imagens feitas por moradores de Caroebe mostram atoleiro na Vicinal 4 daquele município no Sul de Roraima (Imagem: Reprodução)

Estradas e vicinais se tornando atoleiros, pontes de madeira ameaçando desabar, buraqueira nas estradas e toda desgraça que as chuvas de inverno proporcionam às populações. Parece uma novela repetida no estilo global vespertino, mas é só a realidade de Roraima que insiste em seguir na mesmice do abandono governamental aos que moram no interior do Estado.

Mas não era para ser assim, pois os seguidos anos foram de anúncio de robustos recursos públicos que, se não resolvessem os problemas, ao menos poderiam ter amenizado os estragos que penalizam a população interiorana,  principalmente os pequenos produtores que precisam escoar sua produção a fim de abastecer as cidades.

Vamos à recapitulação dos fatos recentes que mostram que recursos existem aos montes, mas o que falta é a devida aplicação do dinheiro público para encarar os problemas. A linha do tempo pode ser montada a partir de 2021, quando, no dia do aniversário do Estado, em 05 de outubro, o Governo do Estado realizou uma grande solenidade no Parque Anauá para anunciar o programa “Aqui tem Obra”.

Naquela oportunidade, foram anunciados cerca de R$ 372 milhões em investimentos, sendo destinado só para a infraestrutura o valor de R$ 230 milhões destinados para asfaltamento de estradas, recuperação, substituição e construção de pontes, bem como mais R$ 240 milhões que seriam investidos especificamente no interior do Estado.

No ano seguinte, mais verbas foram anunciadas. Por causa dos estragos provocados pelas fortes chuvas, em junho de 2022, faltando 100 dias para as eleições, o Governo do Estado destinou R$70 milhões para 12 municípios do interior, com autorização da Assembleia Legislativa de Roraima, amparada por decretos de calamidade pública oficializados pelos prefeitos por causa do inverno.

O montante de recursos era destinado exatamente para as prefeituras  enfrentarem os estragos provocados pelo inverno, a exemplo de estradas intrafegáveis por causa de atoleiros, pontes quebradas e bueiros destruídos, além de construção de desvios para garantir a trafegabilidade principalmente nas vicinais. Tudo sob os holofotes da imprensa e das fortes campanhas institucionais.

Logo em seguida, no mesmo mês, o governo anunciou quase R$105 milhões em contratos direcionados para obras e serviços nos 15 municípios do Estado, mais precisamente em 20 de junho, sem especificar nada, apenas alegando que o montante de recurso seria para limpeza urbana, abertura e conservação de ruas em vilas, remoção de entulhos, demolições de prédios, limpeza de escolas e prédios públicos na Capital e nos municípios do interior.

Ficou muito claro que recursos nunca faltaram desde 2021, o que significa que a situação das estradas e pontes jamais poderiam ter chegado a atual situação. No entanto, em 2022 e 2023, foram publicadas algumas matérias mostrando os moradores serem obrigados a tirar do próprio bolso para fazer reparos em rodovias e vicinais, além de construção de pontes.

Como não há uma fiscalização efetiva por parte dos órgãos de controle, nem dos parlamentares, incluindo aí os vereadores, muito menos cobrança honesta por parte da população, então a tendência é as cenas se repetirem a cada inverno no interior do Estado. Lembrando que em 20222 houve eleição, com mais uma marcada para outubro deste ano.

Isso significa que o problema não está somente nos políticos, mas também em quem os coloca lá por meio do voto livre e secreto. Políticos e eleitores se merecem. E a meteorologia mostra que muita chuva ainda irá cair, o que significa que a tendência é só piorar daqui para frente.  Mas em outubro tudo voltará ao normal, com a amnésia seletiva de sempre.

*Colunista

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