JESSÉ SOUZA

Chegamos ao ápice: venezuelanos tapam buraco na BR-174 com piçarra

Enquanto obra de recuperação da BR-174 está abandonada, venezuelanos tapam buraco piçarra em troca de esmola

Buracos são tapados com barro na RR-203 em direção a Tepequém
Buracos são tapados com barro na RR-203 em direção a Tepequém

A situação do trecho norte da BR-174, em direção à Venezuela, tornou-se motivo do mais alto grau de escárnio com a realidade que vivemos. Um grupo de três imigrantes venezuelanos montou acampamento coberto de lona, às margens daquela rodovia, na altura do Km 70, para tapar com piçarra as imensas crateras em troca de qualquer ajuda em dinheiro de motoristas que passam por lá.

Os três estrangeiros já taparam algumas crateras em um pequeno trecho na altura do Km 73. Eles fixaram uma placa no leito da pista, dentro de uma cratera, com mensagem pedindo qualquer contribuição em troca de seu essencial serviço, feito no braço, com pá e carro de mão. Uma escancarada humilhação ao Governo de Roraima, que ficou responsável pela recuperação daquele trecho da BR-174 e nunca conseguiu realizar aquela obra em quatro anos.

Se venezuelanos que chegaram ao país fugindo da fome de seu país conseguem tapar buracos no braço, por que o Governo do Estado não consegue sequer fazer uma obra paliativa, ainda que seja com piçarra mesmo, para aliviar a caótica situação daquela rodovia?  Resposta: incompetência, desleixo e irresponsabilidade; tudo isso misturado ainda com gravíssimas suspeitas que precisam ser investigadas.

O mesmo serviço de tapa-buraco, mas com barro, está sendo feito na RR-203, rodovia que dá acesso à Serra do Tepequém. Porém, a obra daqueles três venezuelanos é mais eficiente, pois a piçarra consegue ainda resistir à chuva, pois o material acaba sendo compactado pelo intenso tráfico, enquanto o barro jogado nos buracos da rodovia do Tepequém se desfaz à primeira chuva. É uma humilhação às nossas autoridades e uma vergonha sem precedentes ao contribuinte brasileiro que paga impostos altíssimos.

A cena de venezuelanos em situação de rua tapando buraco da principal estrada do Estado de Roraima, por onde circula os principais produtos da economia local, enquanto as autoridades brasileiras se escondem, representa o nível maior do descaramento da política roraimense. Humilhação inclusive para os órgãos fiscalizadores, pois os venezuelanos estão fazendo um serviço, em troca de esmola, cuja obra já consumiu milhões de reais sem que tenha sido concluída.

Não há mais palavras para descrever esta dura realidade a que chegamos. E, se duvidar, a providência que as autoridades deverão tomar, imediatamente, será mandar retirar os venezuelanos de lá e ainda culpá-los por supostamente estarem provocando riscos de acidente. E tudo continuará do mesmo jeito, sob a justificativa de que nada pode ser feito por causa das chuvas.

Aí chegaremos também ao ápice do descaramento.

*Colunista

[email protected]