Chegou o momento de a direita conservadora expurgar os seus piores demônios
Jessé Souza*
Surgiu a oportunidade única para a direita civilizada se depurar e se desfazer do bolsonarismo golpista que revelou sua face mais cruel na fatídica tarde de domingo, no Distrito Federal, quando terroristas de verde e amarelo vandalizaram prédios das sedes dos Três Poderes, confirmando que eles nunca souberam o que é um movimento de direita e conservador.
Na bozosfera esquizofrênica de frente de quartel, nunca existiu qualquer sinal de que os adeptos do movimento golpista soubesse o que é ser um conservador dentro do lema “Deus, Pátria e Família”, adotado por eles, o que acabou se confirmando nas cenas estarrecedoras de bolsonaristas enrolados à Bandeira nacional não satisfeitos em apenas vandalizar, mas dispostos a arrear as calças para simular que estavam defecando em cima das instituições brasileiras.
São atos e imagens repugnantes até mesmo para quem não tem a menor simpatia pela esquerda, muitos menos para os verdadeiros conservadores, os quais baseiam seus princípios não somente na fé, mas no respeito às leis, especialmente a Constituição do país, e que, portanto, sabem usar os instrumentos democráticas com respeito ao seu país e a todos os atores da política por meio do diálogo.
Os verdadeiros conservadores não se abraçam ao extremismo de forma alguma, muito menos se valem da religião cega para justificar quaisquer atos que não o republicano, pois o conservadorismo é “uma filosofia política que aspira a preservação do que pensa ser o melhor na sociedade e que se opõe a mudanças radicais” (Dicionário Conciso de Política de Oxford). Ao contrário, o bolsonarismo se transformou numa ceita terrorista.
Embora a direita esteja órfã de um líder realmente conservador, que abrace suas pautas e seus valores, o resultado das eleições mostrou que praticamente a metade da população não apoia o governo de esquerda. Porém, boa parte dessa grande parcela da população desconhece o que é pertencer a uma direita conservadora, pois a repercussão dos atos terroristas mostrou que muitos aplaudiram a selvageria contra a democracia.
O próprio resultado das eleições mostrou isso, quando foi eleita uma maioria de parlamentares de direita e centro-direita para se tornarem uma grande força no Congresso, no entanto, boa parte desses eleitos coaduna com o terrorismo bolsonarista que se habituou a enganar seu eleitorado cego pelo golpismo e por ações que atentam contra direitos de setores da sociedade.
A tentativa de golpe durante a invasão aos Três Poderes foi o limite dessa política da truculência e da mentira como instrumento político, em que o bolsonarismo radical mostrou-se um cancro a ser extirpado o quanto antes, se quisermos um país pacificado rumo ao desenvolvimento. Não se pode admitir qualquer justificativa para abonar esses atos terroristas.
O momento de a direita conservadora se livrar desse entulho é agora, ou nunca, renunciando a qualquer flerte que houver com o golpismo e a violência de um bolsonarismo esquizofrênico de frente de quartel. Não se pode mais transigir com o golpismo. A direita precisa reassumir seu importante papel longe de Bolsonaro e do bolsonarismo, conforme dito na Coluna de ontem.
Definitivamente, o Brasil precisa de uma direita civilizada, que entenda qual é o seu papel fundamental na manutenção da democracia e dos valores de uma política conservadora, abdicando inclusive de pastores evangélicos incendiários, ávidos por manter uma ditadura religiosa dentro do bolsonarismo terrorista, visando uma teocracia que troca barra de ouro por liberação de verba.
Chegou a hora de expurgar os demônios.
*Colunista