Chocolate GarotoInfelizmente, o brasileiro também é culpado pelas ações corruptas de militares venezuelanos durante abordagem a turistas. Não que eu queira livrar a Venezuela de seus graves problemas, mas no quesito corrupção não podemos nos orgulhar. Pelo que tenho observado, o brasileiro exportou alguns maus comportamentos para lá.
Vez por outra, ouço brasileiros (incluídos aí os amazonenses) falando que levam chocolate Garoto para “presentear” algum militar da Guarda Venezuelana durante o trajeto, pela estrada, até as ilhas caribenhas daquele país. Ou que não hesitam em oferecer alguma grana no bom estilo do “jeitinho brasileiro”.
O fato é que muitos brasileiros levaram, para as estradas venezuelanas, a malandragem que é usual por aqui. Não providenciam as documentações necessárias, não regularizam seus veículos e não querem se submeter a revistas, espera e filas. Resultado: optam pela propina para que passem pelas alcabalas sem ser incomodados.
No quesito filas, o brasileiro tornou-se especialista: fura fila da gasolina, oferece propina para o cara da bomba ou, quando não, optam por encher o tanque em pontos clandestinos na fronteira. Depois não querem arcar com as consequências: o rigor da lei venezuelana ou o pagamento de mais propina para não serem submetidos a esse rigor.
Tudo isso não poderia resultar em outra coisa. Se o brasileiro é malandro e se mostra solícito em pagar propinas (isso também é corrupção), então obviamente que tal fato acabou despertando os militares corruptos, os quais existem em qualquer parte do mundo, com suas raras exceções.
Se os brasileiros agissem dentro da lei, se respeitassem as regras de trânsito, se entrassem na fila como todo mundo, se planejassem suas viagens, se não propinassem o militar e impusessem respeito, com certeza um guarda iria pensar duas vezes antes de pedir uma propina. Como já está tudo esculhambado, é difícil corrigir e quem pode pagar o pato é aquele que for cobrar o certo, principalmente porque a Venezuela está aos frangalhos.
Tempos desses, quando eu estava na fila da gasolina, na fronteira, vi uma cena inusitada: um venezuelano saiu da fila e foi bater-boca com os caras da bomba de abastecimento porque eles estavam permitindo que os próprios venezuelanos furassem a fila. Sim, na Venezuela existe quem presa pelo correto. Se o brasileiro agisse de forma certa, a corrupção da Guarda Venezuelana não resistiria ou não teria avançado.
Porém, não é isso o que ocorre. O brasileiro importou a corrupção e agora todos sofrem as consequências, inclusive os que estão agindo correto. Com a cena que presenciei, do venezuelano protestando contra a malandragem de seus conterrâneos na hora de abastecer seu veículo, dá para perceber que o brasileiro apenas paga o preço por agir sempre na malandragem e na corrupção.
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