Jessé Souza

Cifras e fatos que precisam ser bem esclarecidos sobre o Parque Anaua 15979

Cifras e fatos que precisam ser bem esclarecidos sobre o Parque Anauá

Jessé Souza*

Já que a disputa pela vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) deixou rusgas e feridas abertas, fazendo surgir um deputado de oposição, então chegou o momento de começar a colocar às claras o que vem sendo enterrado ou colocado debaixo do tapete nos últimos anos. A questão do Parque Anauá pode ser uma sugestão para o início de uma investigação sobre o que realmente está ocorrendo por lá, depois que o Governo do Estado fez pelo menos dois anúncios de revitalização, cujas obras milionárias precisam ser detalhadas.

Para se ter uma ideia do grande enredo que se tornou, não se trata apenas de seguidos contratos que vêm sendo anunciados desde a administração anterior ao atual governo. É importante destacar que, no pacote de bondades anunciadas pelo governador Antonio Denarium para as prefeituras faltando 100 dias para as eleições, em junho do ano passado, os R$105 milhões em contratos direcionados para realizar serviços nos 15 municípios, o Parque Anauá foi contemplado dentro desse recurso.

Até hoje ninguém sabe realmente onde e como foram aplicados os R$105 milhões, nem se houve alguma obra e/ou serviço realizados no Parque Anauá. Porque tudo continua do mesmo jeito, desde que um novo anúncio de revitalização foi anunciado, no dia 17 de abril deste ano,  quando foi realizada solenidade para o governador assinar ordem de serviço para obras que prometiam “transformar o Parque Anauá”, cujo valor do projeto era de R$ 120 milhões só de recursos próprios, mas que conta ainda com recursos de emendas parlamentares. Só aí dá para imaginar a vultosa soma de recursos que não foi explicitada.

Esse foi apenas o mais novo anúncio. No aniversário do Estado de Roraima em 05 de outubro de 2021, o governador já havia anunciado que o Parque Anauá estava incluso no pacote de 11 obras e reestruturação de prédios públicos por meio do programa “Aqui tem Obra”, com mais de R$ 372 milhões em investimentos. E o Parque Anauá receberia cerca de 30 obras sob a promessa de o local se tornar o “primeiro parque inclusivo do Brasil”. Ou seja, só até aqui, são dois anúncios sob cifras milionárias, sem que ninguém explicasse se realmente essa montanha de recurso fora aplicada ou não.

O único fato de amplo conhecimento público é que, nesses pacotes milionários de obras anunciado pelo Governo do Estado para o Parque Anauá, nunca constou absolutamente nada para reforma ou reconstrução do Museu Integrado de Roraima (MIRR), que ficou desativado desde 2011 e cujo prédio histórico foi demolido pelo governo na calada de um fim de semana no mês de maio passado. Uma história de quase quatro décadas foi colocada abaixo sem qualquer remorso por parte das autoridades e sem indignar nenhum órgão fiscalizador.

Dentro dos R$120 milhões previstos para o Anauá este ano, foram anunciadas obras para construção de estrutura para esportes estrangeiros de elite, como campos de futebol americano, de rugby, de basebol e de golfe, mas nada para o Museu. Destruir o Museu faz parte de um projeto antigo dos políticos locais para renegar a Cultura e a História. Ter deixado o Museu fechado por 12 anos também foi uma estratégia bem estudada da elite política e econômica local. Então, a demolição do prédio do Museu é outra pauta para os parlamentares de oposição se encarregarem.

É bom frisar também que se torna necessário explicar os recursos destinados para obras no Parque Anauá na administração anterior, no ano de 2015, quando uma empresa foi contratada pelo valor de R$5,7 milhões para realizar uma segunda etapa de obras que nunca foram concluídas. Essa empresa abandonou a obra e foi substituída por outra,  com sede em São Paulo, já no atual governo, com orçamento de R$ 23,5 milhões (R$ 14,5 milhões para a primeira etapa e R$ 9 milhões para a segunda).

Então, é muita cifra envolvida que precisa ser bem esclarecida. Se houver realmente vontade política para fiscalizar tudo isso, estaremos diante de um escândalo que vem sendo não apenas abafado, mas propositalmente ignorado por todos. Tem mais dados e cifras. No entanto, esses que foram explicitados acima são suficientes para dar início a uma investigação a fim de que a opinião pública tenha conhecimento sobre onde foram parar todos esses milhões de reais.

*Colunista

[email protected]

** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV