Jessé Souza
Colonizados da agricultura 09 10 2014 132
Jessé Souza* Quem costuma fazer compras, principalmente nas feiras-livres, vai perceber que muitos produtos vêm de fora do Estado, inclusive a farinha, que poderia estar sendo produzida aqui mesmo, com apoio e assistência. Tomate, laranja, polpas de fruta, frango e até mesmo a carne apresentam no rótulo informação de que esses produtos foram importados. Não é difícil buscar explicação. Não precisa ser entendedor de economia nem um especialista em comércio. Basta olhar a política local para perceber o que motivou o setor agropecuário definhar e enfrentar duras barreiras para abastecer a mesa do roraimense e gerar renda para as famílias que estão produzindo no interior. Um dos principais fatores foi a política adotada para a agricultura desde antes da instalação do Estado, quando famílias inteiras, chamadas de “colonos” (sim, porque foram colonizadas pelo governo) foram jogadas em vicinais no meio da floresta, sem estrada, sem ponte, sem posto de saúde e sem escolas para suas crianças. Os que não foram “colonizados” (leia-se largados) e conseguiram vencer por conta própria não receberam a assistência técnica necessária para garantir a estabilidade de seu empreendimento e uma produção de qualidade. O governo, em vez de dar mais apoio, acabou com a assistência técnica rural. A decisão de não mais ter uma empresa para garantir assistência não foi sem propósito. Os políticos não queriam ninguém independente, produzindo feliz no campo, pois os planos sempre foram o de transformar todos em colonizados, dependentes do assistencialismo e paternalismo do governo. E conseguiram. Em vez de assistência, os governantes passaram a doar apenas sementes e mudas. Empresas de políticos enriqueceram vendendo mudas, inclusive de acácias, que serviram tão somente para invadir o lavrado e ocupar espaço na cidade e nas florestas, sem qualquer utilidade. Nas margens das rodovias é possível ver imensos plantios de acácia apodrecendo ou mirrando. Até mudas de café foram compradas pelo governo e distribuídas para produtores. Houve fazenda de político que recebeu mudas e incentivos, mas nunca chegou a produzir uma xícara sequer de café. Se quisermos um bom café da manhã, temos que comprar os produtos que vêm de longe ou, ao menos, do Amazonas. Hoje os produtores familiares e os médios produtores estão largados ao descaso. O governo acha que faz muito colocar um “caminhão da feira” para buscar os produtos desses agricultores abandonados nos lotes e vicinais (serviço este que nem funciona mais). Toda vez que uma dona de casa for ao supermercado ou à feira tem que lembrar que os altos preços de produtos importados, além da falta de qualidade de muitos produtos locais, têm um motivo: a política assistencialista e colonialista adotada por estes mesmos políticos que estão no poder. *Jornalista [email protected]