O mês dedicado às mulheres vai encerrar com o foco das atenções da opinião pública voltado totalmente para a fumaça que avança sobre boa parte de Roraima e os incêndios completamente fora de controle, com as autoridades tentando encontrar justificativas e desculpas para encobrir a omissão e o desleixo em relação a inexistência de uma política de governo em relação à forte estiagem e seus reflexos.
No entanto, se a fumaça conseguiu até mesmo encobrir o sol e ameaçar a saúde do roraimense; se a seca chamou a atenção para situação crítica do Rio Branco e a falta de água nos municípios; e o fogo alarmou a grave ameaça ao ecossistema, tudo isso não conseguiu encobrir a realidade da mulher roraimense, vítima de todos os tipos de violência.
A situação dos jogadores Daniel Alves e Robinho, acusados de estupro fora do Brasil, com grande repercussão em todo o país, ocupando boa parte das pautas da mídia nacional, ajudou a manter em evidência o tema sobre a violência contra a mulher diante de outros fatos escandalosos que ocorreram na política, inclusive o desdobramento da cruel execução de uma vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco.
Em Roraima, encerraremos o mês de março com as imagens do vídeo de uma câmara de segurança que mostram um vereador de Caracaraí agredindo a socos e enforcamentos uma mulher com quem mantinha um relacionamento. Não se trata de qualquer pessoa, mas sim de um vereador reincidente que chegou a ser preso em 2015 por agredir outra mulher com socos, chutes e empurrões.
Como se trata de um reincidente, significa que a punição do caso anterior não foi suficiente para freá-lo em seu ímpeto agressor e – pior! – nem o fato de já ter sido preso como agressor de mulher foi suficiente para que os eleitores de Caracaraí deixassem de votar nele. Ou seja, bater em mulher não indignou a população daquele município, a ponto de voltar a elegê-lo para um novo mandato.
Na verdade, o descaso e a tolerância com que as autoridades tratam a situação de violência e agressões contra as mulheres acabam provocando impunidade e disseminando na sociedade que se trata de um problema sem importância. E isso pode ser visto nos vários casos de autoridades locais impunes por prática de violência doméstica e até mesmo de estupro.
Também não se pode deixar passar em branco que houve o caso de um promotor de justiça agindo em flagrante desrespeito a uma advogada em plena audiência, mostrando que a situação da mulher é muito mais grave do que se pensa e que não se trata de uma questão de educação formal ou não. É por isso que o calendário vai virar, mas o assunto não pode ser esquecido, muito menos abafado
O ano de 2024 começou com dois assassinatos de mulheres que indignaram a opinião pública, os quais não podem ser esquecidos. Assim como as autoridades precisam dar respostas rápidas e exemplares para punir os agressores e não deixar que a impunidade continue sendo um instrumento de desesperança no combate à violência contra a mulher e de incentivo a agressores.
*Colunista