Por volta das 9h da manhã de sexta-feira passada, dois caças Super Tucanos interceptaram uma aeronave suspeita no exato momento que estava sobrevoando a Serra do Tepequem, mais precisamente sobre o Platô, que é um dos roteiros mais buscados por turistas aventureiros. Tem se tornado rotineiro o sobrevoo dessas aeronaves na região, no Município de Amajari, devido à proximidade com áreas de garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami e pistas clandestinas usadas pelo narcogarimpo.
Significa que tem surtido efeito a atuação da Força Aérea Brasileira (FAB), por meio das Medidas de Policiamento do Espaço Aéreo (MPEA), estabelecidas pelo Comando de Operações Aeroespaciais (Comaer) para identificar tráfego ilícitos na Zona de Identificação de Defesa Aérea (Zida) na região da Terra Yanomami, que se estende na região Norte de Roraima, na fronteira com a Venezuela.
Pode ser citado como reflexo dessa atuação a maior apreensão feita até aqui pela Operação Omawe, que combate garimpo ilegal em terras indígenas, na noite de quarta-feira da semana passada, quando foram apreendidas 33 barras de ouro, que totalizaram 21kg do minério avaliados em R$10 milhões, que estavam em um carro abordado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Sul do Estado, no Município de Rorainópolis, que faz divisa com o Estado do Amazonas.
Os criminosos estão apostando numa rota terrestre, a exemplo dessa grande quantidade de ouro apreendida na BR-174 pela PRF. Muito provavelmente, o ouro iria atravessar a fronteira, seja na Venezuela ou na Guiana, já que os voos clandestinos passaram a ser fiscalizados, o que não ocorria no governo passado e acabava contribuindo com o envio do ouro extraído ilegalmente de terras indígenas para o exterior.
É possível que carga milionária de ouro ilegal pode ter vindo do Pará, onde as autoridades federais também estão fechando o cerco contra o garimpo ilegal. Por coincidência, na semana passada, a pedido da Polícia Federal, a Justiça Federal mandou prender dois oficiais da Polícia Militar e afastar 36 policiais militares sob acusação de receberem propina e fazerem segurança de garimpo ilegal de ouro numa região do Tapajós, no sudoeste paraense.
Conforme a investigação, os PMs recebiam uma mesada de empresas e pessoas investigadas por comércio do ouro de terras indígenas e de áreas de proteção legal, os quais facilitavam ou não reprimiam os crimes ambientais cometidos pelas empresas, além de atuarem na logística e segurança do ouro ilegal. Não é uma cena muito diferente do que é investigado em Roraima, onde PMs também são acusados não só de fazerem segurança privada a garimpeiros, mas também de formação de milícia para assaltar e extorquir garimpeiros, além de forjarem confrontos para matarem faccionados ligados ao garimpo ilegal.
Não por coincidência, na semana passada um grupo de indígenas Yanomami, liderados por Davi Kopenawa, entregou denúncia ao ministro Alexandre Padilha sobre a atuação do crime organizado na Terra Yanomami, citando fortes suspeitas de envolvimento de autoridades políticas detentoras de mandato com o garimpo ilegal, tráfico de drogas e outras atividades ilícitas, inclusive com apuração pela Polícia Federal e prisão de parentes desses mandatários.
No Pará, a Justiça já começou a mandar para a prisão os PMs suspeitos de atuarem no garimpo ilegal. Em Roraima, os indícios da participação de PMs são tão graves quanto contundentes. Ainda é preciso passar muita coisa a limpo. Mas as ações e operações policiais estão caminhando para isso. É só questão de tempo para tudo vir às claras.
*Colunista