CONCORRÊNCIA: FORMAS DIFERENTES DE PERCEBER A EVOLUÇÃO
Quem não lembra quando se falava em concorrência e vinha logo a mente a ideia de que “quanto mais longe meu concorrente estiver melhor para os meus negócios”. Foi um pensamento que se eternizou por décadas e que retardou o avanço de muitas organizações e levou ao fracasso muitas outras. O interessante é que até hoje tem gente pensando dessa forma, esquecendo teorias e conceitos que foram criados em cima da observação da concorrência, de suas estratégias, de seus exemplos vitoriosos e até mesmo dos seus erros. Um ponto que devemos destacar é que quando uma organização acha que as únicas verdades do mercado estão dentro dos seus limites físicos (gavetas, paredes e escritórios) essas podem ser as suas piores concorrentes.
Historicamente poderíamos relacionar dezenas e até centenas de empresas “que pararam no tempo” e perderam os cavalos encilhados que passavam na sua frente. Quem não lembra da história da KODAK? A KODAK foi o sinônimo mundial de fotografia e dominou 80% das câmeras e filmes fotográficos, curiosamente foi dela a invenção da câmera digital, invenção que revolucionou o mercado e que também foi responsável pela sua saída do mercado. O projeto das câmeras digitais foi engavetado, quando um dos seus executivos defendeu a posição de que a nova ideia iria prejudicar as vendas dos seus produtos de série, tais como filmes, papéis fotográficos e outros produtos da linha. Uma visão totalmente equivocada e que não foi compartilhada por empresas como Canon e Nikon que passaram a dominar o mercado e a deslocar a marca da KODAK para uma posição de pouco destaque. Além dessas empresas que foram mais visionárias, hoje você tem câmeras digitais nos seus smartphones, câmeras que fotografam e filmam em 8K e que com alguns toques você finaliza vídeos ou álbuns. O mais curioso é que a KODAK hoje, tenta se reapresentar ao mercado com o lançamento de smartphones com câmeras superpoderosas. Uma grande ironia.
Outro caso interessante foi a ATARI que na década de 1980 foi a pioneira em videogames e que na visão dos especialistas da época se eternizaria como a grande marca do segmento. Mas pela visão equivocada não foi isso que aconteceu. Enquanto a ATARI achava que estava dormindo em “berço esplêndido”, empresas como a Nitendo e em seguida a Playstation da Sony partiram para a outra fase do desenvolvimento de sistemas operacionais que traziam maior interatividade entre os usuários, mais realismo aos cenários e levavam o jogador para dentro dos jogos. Com esse novo modelo de pensar os videogames, a ATARI foi perdendo espaço, seus usuários foram abandonando a marca e nas últimas décadas suas divisões foram vendidas para outros grupos e amargou prejuízos e a necessidade de recuperação judicial. Hoje tenta se reinventar apostando na nostalgia de seus produtos em relação aos consumidores mais velhos e fatura como licenciamento de sua marca em diversos produtos. Mais um exemplo de uma empresa que não olhou para a frente e muito menos para o lado.
E quem não lembra da BLOCKBUSTER, uma das maiores locadoras do mundo que não se atentou para uma simples mudança de tecnologia. Essa líder de mercado foi expurgada do mercado por empresas como Netflix, mesmo antes do streaming se tornar popular. A própria BLOCKBUSTER deu o sinal de uma evolução natural que ela mesmo não percebeu. No princípio, essa gigante norte-americana tinha como modelo de negócios o envio dos filmes para as casas dos clientes via serviços postais (correios) e essa otimização e facilidade na logística foi o suficiente para que o hábito de ir a uma locadora caísse por terra, até porque a reposição de títulos tinha um vácuo de algumas semanas ou meses, o que levava o público a girar em torno de filmes e séries obsoletas.
Uma das ironias da história da BLOCKBUSTER, é que a Netflix chegou a ser oferecida como opção de compra para a gigante norte-americana e os executivos à época não acreditavam no modelo de negócio. O desfecho foi que em 2013 a BLOCKBUSTER decretou seu fim, atropelada pela própria Netflix que com a popularização das conexões banda larga e streaming dominou o mercado.
E quem não lembra dos smartphones da BLACKBERRY conhecidos como o telefone celular oficial do presidente americano e que foi sinônimo de inovação no início dos anos 2000. As tecnologias oferecidas como a edição de planilhas e a possibilidade do trabalho remoto eram marcas registradas da empresa, porém marcas como a Apple com o IOS e as diversas opções dos modelos com Android deixaram a BLACKBERRY como uma marca do passado. A demora pela incorporação de novas tecnologias como o “touch screen” e tantas outras funcionalidades mais bem resolvidas pelos concorrentes deixaram os teclados físicos completos da BLACKBERRY para trás. A Apple ganhou o lugar de destaque e passou a ser a referência mundial em smartphones.
Essas são apenas algumas histórias que mexem com o nosso modelo mental. Mostram que para crescermos é preciso estar atentos, que para permanecermos no mercado temos que ter uma visão holística, que ignorar tendência é acelerar o passo da saída do mercado e que a transformação digital e/ou tecnológica, por si só, não será suficiente para mudar percepções.
Não deixe que o seu maior concorrente seja a ignorância e a falta de humildade.
Por: Weber Negreiros