JESSÉ SOUZA

Contrato de R$2,5 milhões e somente promessas aos pequenos empreendedores

Jessé Souza*

Todos já fizeram questão de se esquecer, mas foi faltando 100 dias para as eleições do ano passado que o Governo do Estado contratou uma entidade pelo valor de quase R$2,5 milhões para realizar uma pesquisa destinada ao programa “Aqui tem governo”. O contrato foi assinado pela Secretaria Estadual das Cidades, Desenvolvimento Urbano e Gestão de Convênios (Seci) com o desconhecido Instituto Popular de Crédito e Cidadania (Confiarr).

Foi naquele momento que o governo havia decidido que seria a vez dos pequenos, após ter iniciado sua primeira administração propagando prioridade ao agronegócio. Parecia mesmo que o governo havia despertado de seu sono profundo com os pequenos. E no dia 7 de junho de 2022 foi assinado o contrato para realizar um levantamento do perfil empresarial dos empreendedores do Estado sob a justificativa de que os pequenos empreendedores passariam a estar entre “os objetivos fundamentais do Governo do Estado para valorizar a economia roraimense”.

Até o nome do instituto sugestionava confiança, mas o certo é que foi pago o valor de R$ 2.495.000,00 e até hoje não se ouviu mais falar mais nada sobre isso um ano depois. O contrato previa cadastramento, pesquisas, diagnósticos, desenvolvimento e gerenciamento de banco de dados para dar suporte às supostas políticas públicas relativas a ações sociais do governo. Tudo às vésperas das eleições, em que o governador Antonio Denarium foi reeleito com ampla vantagem.

Os órgãos de controle precisam dar uma resposta sobre o que ocorreu com esse contrato e que fim levou o tal levantamento, uma vez que ainda não se viu nenhuma política efetiva para os pequenos. Sequer foi publicado um diagnóstico para que a sociedade possa saber a respeito do perfil dos pequenos empreendedores e da sua contribuição para a economia local.

Até aqui, segue a mesma política de privilegiar os grandes, enquanto os pequenos ficam largados à própria sorte em vicinais no atoleiro e com pontes de madeiras caindo aos pedaços ou em rodovias precárias, a exemplo do trecho norte da BR-174, onde os pequenos empreendedores do Turismo da Serra do Tepequém são esquecidos. Até a obra de recuperação da RR-203 nunca foi concluída.

Desde que o contrato com aquele instituto foi assinado até o presente momento, o governador já estevem em Suriname, na Guiana e em vários  estados brasileiros defendendo os interesses do agronegócio, enquanto essa política voltada aos pequenos empreendedores sequer saiu do papel – se é que existiu mesmo um projeto.

Até mesmo foi prometido, naquele ano eleitoral, que a  Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) iria “fomentar diferentes estratégias de negócios favorecendo o empreendedorismo” por meio de levantamento simplificado do perfil empresarial em Boa Vista, visando avaliar as necessidades de políticas públicas de apoio. Outro engodo.

Já passou da hora de o governo prestar contas sobre tudo isso que foi anunciado aos pequenos, especialmente sobre o gasto de quase de R$2,5 milhões com aquele instituto.

 *Colunista

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** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV