
Dois fatos chamaram a atenção no fim de semana que se passou. Um deles foi o caso de um piloto de aeronave que caiu na Terra Indígena Yanomami, o qual foi encontrado com vida por garimpeiros. O outro foi o corpo de um jovem venezuelano encontrado no Anel Viário, local que normalmente é usado por criminosos para desovar corpos por ser uma área desabitada.
Significa que o garimpo em terra indígena continua ativo, inclusive com voos clandestinos e garimpeiros navegando pelos rios sem ser incomodados. Como se sabe, se antes o garimpo ilegal já era comandado por uma rede de crime, significa que agora, com toda repressão, só resistem aqueles que têm condições de se organizar em atividades criminosas.
Enquanto isso, em Boa Vista, o crime organizado e consorciado com bandidos venezuelanos mostra sua força ao desovar mais um corpo nas cercanias da cidade, que é a forma de atuar do Tren de Aragua, maior organização criminosa da Venezuela, cuja imprensa afirma que já conta com membros em seis estados brasileiros a partir de Roraima.
Conforme matéria divulgada pelo site Metrópoles, no dia 5 passado, a facção estrangeira está alinhada com bandidos brasileiros, com destaque para o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção paulista, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Não se trata de nenhuma novidade, a não ser a constatação do crescimento da facção venezuelana no país.
É de conhecimento público que esta facção venezuelana já se expandiu por vários países da América Latina, sempre agindo com extrema violência, e chegou até aos Estados Unidos, onde o bando é classificado pelo presidente Donald Trump como “inimigo de guerra” e, por conseguinte, assim é tratado dentro da política de extradição.
Em Roraima, o bando criminoso internacional aproveitou-se da facilidade de entrar no país devido à política humanitária de acolhimento de imigrantes e da Operação Acolhida para se organizar e fortalecer sua atuação, valendo-se da vulnerabilidade dos imigrantes, aos quais é imposta a lei dos criminosos, inclusive com cemitério clandestino no bairro Pricumã.
O consórcio do Tren de Aragua com o crime organizado brasileiro foi estratégico para estabelecer o principal canal de fornecimento de armas e também do tráfico de cocaína partindo da Colômbia, o que obviamente inclui parceria com o garimpo ilegal tanto no território venezuelano quando na Terra Yanomami do lado brasileiro.
Ainda se valendo da política de interiorização de refugiados do governo brasileiro, membros da facção venezuelana chegaram a São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, conforme matéria do Metrópolis. E se as autoridades brasileiras seguirem inerte, não tardará para que esse consórcio criminoso domine o país a exemplo do que ocorreu nos EUA.
No Estado de Roraima, as autoridades há tempos não sabem o que fazer (ou não querem fazer) para enfrentar essa nova face do único intercâmbio internacional que deu certo, que é o do crime transfronteiriço. Afinal, mal consegue limpar as fileiras da Polícia Militar, com membros investigados exatamente por envolvimento nesses crimes advindos do narcogarimpo, inclusive gente do alto escalão investigada por venda ilegal de armas.
O cenário não é dos melhores. Já que o cemitério clandestino foi descoberto, agora os faccionados venezuelanos não hesitam em desovar os corpos de suas vítimas da forma tradicional de antes, no Anel Viário, o que não causa mais nenhum clamor público. A tendência é só piorar.
*Colunista