Como em Roraima os políticos não estão interessados em resolver as grandes questões que afetam a população por motivos óbvios, para manter o eleitorado no grande curral eleitoral, o Estado vive em uma constante Lei de Murphy, que é uma lei informal e universal que trata da probabilidade e capacidade que as coisas têm de dar errado. Ou seja, se algo tem uma remota chance de dar errado, certamente dará errado.
A questão da migração em massa de venezuelanos já vinha mostrando sérios reflexos na criminalidade na Capital, no atendimento na saúde pública, nas vagas nas redes públicas de ensino, no crescimento desordenado e em outras situações. Se alguém achava que não haveria alguma chance de tudo isso piorar, agora sabe que pode piorar ainda mais com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que suspendeu o financiamento à Organização Internacional para as Migrações (OIM) por 90 dias.
A OIM é o braço da Organizações das Nações Unidas (ONU) para as migrações e, com esta decisão, foi obrigada a suspender suas atividades no Brasil até que o governo norte-americano decida retomar o financiamento, o que impacta severamente os serviços de assistência humanitária a imigrantes venezuelanos em Roraima e em outros estados que acolhiam esses estrangeiros por meio da interiorização.
Como a OIM é um dos principais apoios do governo brasileiro na questão migratória, a suspensão impacta diretamente a Operação Acolhida que recebe imigrantes da Venezuela que chegam a Roraima, além de projetos de integração e acolhimento de imigrantes e refugiados em cerca de 14 estados. Os funcionários da organização temem o desemprego desde que receberam ordens dos EUA determinando que, a partir de sábado, 25, todos os gastos em Roraima e outros estados deveriam ser paralisados.
Estamos diante da iminência de um novo sério problema, uma vez que cerca de 400 venezuelanos atravessam diariamente a fronteira no Município de Pacaraima, ao Norte do Estado, em busca de refúgio em Roraima. Sem esses recursos, as atividades da Operação Acolhida ficam severamente comprometidas no que diz respeito à manutenção, custeio e no funcionamento de estruturas físicas e recursos humanos.
Na pior das hipóteses, ninguém esperava que as ações da Operação Acolhida fossem reduzidas de forma brusca e imediata. Talvez em um futuro não muito distante. Por isso, a decisão pegou todos de surpresa, o que exige que as autoridades locais busquem diálogos com o Governo Federal para que ele assuma não só as suas responsabilidades, mas também esses programas prejudicados pelo corte de recursos por Trump.
Desde 2018 as autoridades locais vêm tentando se eximir de suas responsabilidades em tratar da questão migratória, a exemplo da Segurança Pública, que permitiu que faccionados venezuelanos se organizassem. Agora, não tem mais para onde correr. Ou buscam usar suas forças políticas junto ao governo brasileiro, ou voltaremos a ver cenas desesperadoras de centenas de imigrantes ao relento, com aumento do bolsão de pobreza, que por sua vez reflete na economia local, na segurança pública e em todos os setores essenciais.
O que já estava ruim pode piorar muito mais.
*Colunista