Jessé Souza

Da maquina a bicicleta 17 04 2015 877

Da máquina à bicicleta – Jessé Souza* A implantação de ciclovias ou ciclofaixas em Boa Vista poderá organizar mais o trânsito e garantir segurança aos centenas de ciclistas que circulam diariamente nas principais avenidas da cidade. Poderá. Isso se não houver um trabalho árduo de organização do trânsito como um todo, de respeito ao espaço do ciclista e aos sinais de trânsito, inclusive orientando o próprio ciclista sobre suas obrigações. Garantir espaço às bicicletas sem organizar o trânsito de uma forma geral poderá deixar o ciclista mais vulnerável ainda nessa guerrilha urbana, uma vez que ter ciclovia ou ciclofaixa por si só não garante segurança. Seria como ter faixas de pedestres espalhadas por toda cidade, bem sinalizadas e visíveis, mas com condutores de veículos que não as respeitam. Não podemos esquecer que já tivemos uma ciclovia, no passado distante, ao longo da Avenida Ataíde Teive, na zona Oeste, que simplesmente desapareceu porque não houve um trabalho de manutenção por parte do poder público, nem era respeitada por condutores de veículos, que usavam o espaço do ciclista como estacionamento ou o local servia para colocar placas com anúncio de comércios. Há tempos que as autoridades têm uma dívida com os ciclistas boa-vistenses. Muitas cidades, como Fortaleza (CE) e Manaus (AM), para citar exemplos mais próximos, limitam o tráfego de veículos em avenidas de grande fluxo, aos domingos, para liberar faixas exclusivas para ciclistas. Outras cidades vão até mais longe: fecham completamente o tráfego para carros e motos, deixando as vias para ciclistas e pedestres como opção de encontro e de lazer para a comunidade no fim de semana. Nessas cidades, taxistas e condutores de veículos têm achado ruim e vão para a imprensa protestar. Mas era de se esperar que isso ocorresse. Em um país onde muitos acham que a máquina deve prevalecer sobre os humanos, a bicicleta é vista como um empecilho.  Nos países desenvolvidos, os governos investem em transporte público e bicicletas, com a aprovação da sociedade, para aliviar a carga pesada do trânsito, enquanto no Brasil é justamente o inverso. Se as autoridades estaduais e municipais não resolverem os principais problemas do trânsito boa-vistense, cumprindo sua parte em sinalizar, tapar buracos, investir em mobilidade, em engenharia e em campanhas de humanização, teremos apenas ciclovias que em nada irão garantir segurança aos ciclistas, tornando-se essa obra tão somente um meio de justificar a aplicação de vultosas somas de recursos públicos que o contribuinte boa-vistense terá que pagar, no final. *Jornalista [email protected]