Jessé Souza

Da mesma farinha 1433

Da mesma farinhaJogar a culpa na administração anterior não é uma realidade somente deste ou daquele governo. Isso se tornou parte da chamada cultura política brasileira. Assim que assumiu, a atual administração da Prefeitura de Boa Vista também fez o mesmo: passou meses lançando culpa na administração anterior. E se repetiu com o atual grupo que comanda o Estado.

Mas há um grande “porém” nisto tudo: mudam os administradores, mas os políticos que tomam as decisões são praticamente os mesmos, senão de nomes ou de partidos, e os grupos são os mesmos que se revezam no poder há anos.

Vejamos na Assembleia Legislativa e na própria Câmara Municipal de Boa Vista, onde as figuras são repetidas. No Legislativo estadual, então, há gente enraizada desde a primeira legislatura. Na Câmara Federal e no Senado a realidade é semelhante, onde trocam-se as cascas, mas a essência é a mesma.

Significa dizer que, embora haja troca de comando no Estado e na Prefeitura, quem conduz a política são os mesmos grupos, os quais sempre estiveram na barra da saia do poder ou nas tetas governamentais. Então, todo buraco deixado por administradores para o próximo governo tem dedo de culpa de todos os grupos políticos, seja porque não fiscalizaram no tempo certo, seja porque se beneficiaram da bandalheira.

E os órgãos fiscalizadores também têm culpa, pois eles se lambuzam com o poder ou, no mínimo, fazem vistas grossas quando se trata de determinados grupos ou determinados políticos. E todos vão rezar na mesma cartilha do poder na hora de discutir orçamento, de pedir mais recursos ou articular melhores salariais ou mais benefícios.

Então, não há nada de honroso quaisquer administrações atuais ficarem apontando o dedo para administrações passadas, pois, na real mesmo, todos são culpados pelo que aí está, pois seus grupos nunca deixaram o poder. Quando não estão no poder e vão se embora tratar de seus negócios em outros estados, eles deixam seus capatazes aqui, no Estado, tomando conta de seus negócios, dos seus redutos e fazendo o jogo sujo da politicalha.

Quando estão com a caneta na mão, os cofres públicos são tratados como negócio, e o Estado de Roraima é como se fosse um sítio ou uma chácara, de onde eles tiram seus sustentos para alimentar seus negócios em outro Estado ou região mais desenvolvida.

Enquanto estão longe ou fora do poder, tramam para que tudo fique pior e, assim, retornarem como se fossem os salvadores, os enviados, os eleitos para consertar tudo que eles mesmos ajudaram a destruir. E, quando assumem, já têm a desculpa na ponta da língua: culpa do governo passado.

É assim que funciona essa politicalha. O ciclo é vicioso e não existe essa de administração passada e administração atual. Todos são farinha do mesmo saco, todos colaboraram para cavar o buraco no qual Roraima está há muito tempo e não consegue sair.

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