JESSÉ SOUZA

Da República de Alagoas à normalização de uma ‘nova política’ que nunca aconteceu

Da promessa de uma “nova política” restou apenas a política da mesmice desde o tempo de Collor de Mello (Imagem: Divulgação)

Embora Roraima tenha chegado a um momento crítico da política partidária, a população segue anestesiada como se nada estivesse ocorrendo, mesmo com políticos vivendo com tornozeleira, ex-senador preso sob acusação de mandar executar a mãe de sua filha adolescente, a qual o acusa de estupro, além de parlamentares e familiares condenados pela Justiça no “caso gafanhotos” e até o escandaloso dinheiro na cueca.

Todos circulam por aí como se nada tivesse ocorrido no verão passado, vivendo normalmente como expressões políticas que comandam o Estado. E pensar que, até bem pouco tempo atrás, o povo brasileiro foi acometido por uma onda de moralização empurrada por uma suposta “nova política” que não toleraria desmandos e corrupção.

No entanto, o desenrolar dos fatos mostrou que era apenas mais um discurso, como ocorreu no Brasil em 1989, com o alagoano Fernando Collor de Mello sendo eleito presidente após se autointitular como “caçador de marajás”, discurso de moralização que o levou a ganhar a presidência com 55% dos votos válidos. Era a República de Alagoas que chegava ao poder.

Mesmo indo à desgraça em um governo curto, chegando à queda diante de um impeachment após confiscar a poupança dos brasileiros e flertar com a ditadura, sendo condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Collor segue na política com se nada tivesse ocorrido, a mesma realidade da republiqueta chamada Roraima vivida hoje.

E os fatos mostram uma realidade preocupante, com casos de corrupção emergindo com operações policiais encontrando maletas de dinheiro, policiais militares investigados por participação em milícia, familiares de políticos  presos com droga e armas, juízes afastados por suspeita de venda de sentenças, bem como denúncia de um suposto esquema de grilagem de terras públicas e particulares.

Demorou para que tais fatos chegassem ao plenário da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), chamada de “caixinha de ressonância da sociedade”, ainda que de forma tímida. E a fala de um deputado foi bem enfática ao frisar que estão para vir coisas muito piores, o que significa uma realidade preocupante diante do que estamos presenciando, sob o silêncio da maioria.

Os reflexos dessa realidade que se enraíza no Estado já podem ser sentidos: criminalidade assustando, narcotráfico atuante, seguidos sinais de corrupção, analfabetismo e desistência de sala de aula, além da insegurança diante da forte possibilidade de termos nova eleição. E parece que todo mundo está anestesiado para esta realidade…

*Colunista

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