Jessé Souza

Da Russia videos e reflexao 6489

Da Rússia, vídeos e reflexão

O comportamento de brasileiros que gravaram vídeos, na Rússia, assediando mulheres estrangeiras, não se trata de um caso isolado nem um comportamento motivado tão somente por uma empolgação de uma Copa do Mundo. No Brasil, esse tipo de comportamento machista, pornográfico e irresponsável é comum em músicas como o funk, inclusive algumas tocando nas rádios como sucesso absoluto, cujas letras tratam a mulher como objeto sexual. 

A sociedade brasileira, com seus cultos a ídolos de qualquer espécie e paixão à ostentação e luxúria, precisa fazer sua “mea culpa”, inclusive com pais e mães que acham bonito suas crianças que mal sabem andar e falar, mas sabem dançar os passinhos que ultrapassam a barreira da sensualidade para se tornarem pornográficos, embaladas por músicas que colocam a mulher coisificada pelo sexo. 

O que esperar de uma sociedade que cultua programas como o BBB, que confina pessoas em uma casa para que sejam embriagadas em festas nababescas a fim de que aflorem a sensualidade, o erotismo, a fofoca, a intriga, a inveja e todos os tipos de preconceitos na disputa por R$ 1 milhão? Como se sairá uma sociedade que incentiva “novinhas” (adolescentes) a serem “cachorras” em músicas tocadas nas rádios a qualquer hora do dia, ensinando a “sentar e levantar”? Como não se idiotizar se, no programa dominical de maior audiência na TV, o apresentador alimenta a babaquização?

O que aqueles caras fizeram nos vídeos gravados com russas sendo ultrajadas poderiam ser considerados “inocentes” diante do que vemos diariamente nas novelas em horário nobre e nas rádios que valorizam músicas que enaltecem a orgia e a corneagem. Não que isso seja um salvo-conduto ou uma desculpa. Aquilo lá é repugnante, mas não se trata de um comportamento isolado em um país da esculhambação na política, na TV e nas rádios.

O episódio da Copa deve servir de reflexão sobre que tipo de identidade estamos construindo ou incentivando no Brasil, a partir da educação das crianças incentivadas a serem mulheres fatais desde tenra idade, reproduzindo a erotização que ela assiste na TV e ouve no rádio, ou aceitando ser objeto sexual dentro de casa, quando pais aceitam as dancinhas de músicas que colocam a mulher como objeto sexual, como se fossem algo inocente.

Então, se é esse tipo de educação que crianças recebem em casa, obviamente que elas se tornarão adultos que acharão normal assediar mulheres no meio da rua ou que cultuarão ídolos ocos, reproduzindo todo o tipo de coisificação do ser humano, incluindo aí a mulher como objeto sexual. Trata-se da reprodução de tudo aquilo que a sociedade deveria repugnar e combater.

*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main