De baixo para cimaTodas às vezes que vou ao shopping da área nobre da cidade, vejo donos de carros estacionarem seus veículos do lado de fora para não pagarem os R$3,00 do valor do estacionamento. Essa é uma escolha que a pessoa assume na intenção de economizar, mesmo correndo o risco de terem o veículo furtado ou mesmo danificado pela ação de alguém mal intencionado.
Mas, no domingo passado, ao chegar ao shopping, à noite, vi um carro dentro estacionamento parando ao lado da cancela eletrônica, quando um dos passageiros desceu para tirar um novo ticket. Mas por que alguém, que já estava dentro, pegaria um novo ticket na saída? A resposta é óbvia: tirando um novo ticket, o condutor não precisa mais pagar pelo estacionamento porque o veículo passa a ter uma tolerância para sair gratuitamente.
E assim se faz o Brasil que se veste de verde e amarelo contra a corrupção, mas pratica suas desonestidades diariamente, assim que se sente à vontade, bastando não haver alguma fiscalização ou quando está longe do alcance dos olhares da sociedade. O mesmo acontece com atestado médico falso para justificar falta no trabalho ou na faculdade, por exemplo.
Na semana passada, o site da revista IstoÉ publicou uma matéria intitulada “O golpe do título”, na qual um reitor roraimense é acusado de ter viajado para Cuba, com tudo pago pelos cofres públicos, para receber um título. Conforme a revista, o título foi de “doutor honris causas”, que é vendido a pesquisadores e diretores de universidades brasileiras com a finalidade de turbinar currículos, ao preço de R$ 3.600,00.
O país de doutores que compram títulos, do jeitinho na fila do banco, da malandragem do atestado médico, do ticket burlado no estacionamento é o mesmo da Operação Lava Jato, em que políticos safados roubam os cofres públicos para enriquecerem ilicitamente e bancarem suas campanhas eleitorais a custo do dinheiro do contribuinte.
A esculhambação lá em cima é patrocinada por aqueles que também agem com desonestidade aqui em baixo. Ou seja, o eleitor que pratica desonestidade aqui em baixo é o mesmo que elege o corrupto que rouba a nação lá em cima. É um ciclo, um comportamento generalizado ainda que haja suas honrosas exceções.
Enquanto o brasileiro não assumir suas responsabilidades como cidadão, não haverá esperança de que esse quadro comece a mudar. E será somente pela educação a partir das crianças que se começa a mudar uma geração. O povo brasileiro vem demonstrando que não quer ser conscientizado. Então, é preciso que o cidadão de bem, o que honra a decência, não se esmoreça nem se entregue. É uma batalha longa, deuma geração.
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