Opinião

De volta para os bracos abertos da opiniao 11422

Quase três anos depois, estou de volta a casa. O corpo havia cansado e eu pedi arrego. Fui empreender no turismo, buscar novos horizontes, desopilar e enxergar o mundo do outro lado de quem não está na linha de frente da produção da notícia.

Mas sempre estive com um pé na comunicação, especialmente no jornalismo opinativo, onde eu me sinto muito bem, obrigado, apesar do grande peso que é trabalhar com opinião em um país onde ter posição se tornou uma agressão a quem aprendeu a odiar quem diverge de suas ideias.

Já era perigoso ter opinião. Só ficou um pouco pior agora, em tempos de acirramento diante da dicotomia esquerda/direita, quando qualquer mequetrefe com internet e um celular nas mãos passou a ser especialista em tudo, especialmente em atacar as pessoas a qualquer descontentamento dentro de sua bolha.

Mas tudo tem o seu preço. E o preço da opinião pode ser muito alto se não tiver responsabilidade. Porque ter uma posição formada frente a qualquer fato requer cuidados que vão além do ter uma convicção; há de se caminhar sob um fio da navalha para não atingir honras e reputações.

A internet tornou-se campo fértil para que patifes confundam facilmente crítica com ataques. A crítica exige responsabilidade acima de tudo, pois a finalidade de um crítico é abrir discussões – e jamais fechá-la – e fomentar o senso crítico para que outros possam enxergar aquilo que pode estar oculto aos olhos dos menos atentos.

Durante os 20 anos que passei trabalhando dia e noite, na Folha, aprendi a caminhar por esses meandros, pois sempre tive a liberdade de ter opinião própria, de poder avançar um pouco mais além da linha editorial que nos impõem uma conduta profissional. 

Hoje volto mais leve, o que não significa menos crítico. Essa leveza foi embalada pela minha consciência limpa de ter cumprido o meu papel por todos esses anos que trabalhei na linha de frente do Grupo Folha; e esse é o travesseiro mais macio que pode existir.

A porta eu deixei aberta. Agora entro por ela novamente com o papel apenas de emitir opinião. Vou desagradar a muitos, eu sei, mas é necessária a polêmica para que novos pensamentos surjam.

Meu compromisso com o jornalismo e com a sociedade sempre seguiu o mesmo por onde passei. Agora apenas o renovo como forma de me comprometer com os leitores da Folha, mais uma vez, os quais são exigentes e críticos – porque todo leitor naturalmente é um ser crítico.

Vamos lá!

Jessé Souza

Colunista