JESSÉ SOUZA

Declínio do garimpo ilegal e o favorecimento de uma nova ação criminosa no extremo norte

Drogas apreendidas durante operação da FICCO na zona rural do Município de Alto Alegre, nesta quinta-feira (Foto: Divulgação)

A apreensão de quase meia tonelada de cocaína e Skank nesta quinta-feira, por meio de uma operação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), na zona rural do Município de Alto Alegre, é só mais uma constatação de que o crime organizado se aproveita da estrutura montada pelo garimpo ilegal, onde foram feitas aberturas de pistas clandestinas, tornando-se mais uma opção de rota de transbordo, armazenamento e distribuição de drogas para outra regiões e países.

Como a atenção das autoridades ficaram voltadas principalmente para as principais rotas do Amazonas e Pará, então Roraima tornou-se ideal para uma rota opcional. São inúmeras pistas clandestinas abertas no entorno da Terra Indígena Yanomami, cuja extensão vai dos municípios de Amajari a Alto Alegre. O declínio do garimpo ilegal favoreceu essa atividade criminosa que usa também áreas de fazendas em outros municípios no Sul de Roraima, a exemplo de Rorainópolis.

Mas o buraco é mais em cima. O estudo “Cartografias da violência na Amazônia”, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado, aponta que 22 facções criminosas nacionais e estrangeiras atuam na Amazônia Legal, sendo que foi apontada a presença de grupos do crime organizado em 178 municípios da Amazônia. Conforme esse estudo, n0os últimos quatro anos a apreensão de drogas na Amazônia Legal disparou, outro indicativo do aumento do tráfico e da expansão das organizações criminosas.

A grande extensão de toda fronteira da Amazônia com outros países, com destaque para Peru, Venezuela e Colômbia, além da dificuldade de fiscalização, facilita todos os tipos de crimes, além do garimpo ilegal e tráfico de drogas. Diversos estudos afirmam que o crime organizado atua em várias frentes, se associando com o tráfico de armas, contrabando de madeira, contrabando de minérios e pesca ilegal.

O grande risco não é somente o surgimento dessa rota alternativa em Roraima, mas que essa atuação do narcotráfico extrapole e chegue ao centro do poder local. Indicativos já existem, com políticos investigados, familiares de políticos presos e policiais envolvidos com grupo de extermínio e milicia, inclusive com apreensões de drogas em fazenda de autoridades no Sul do Estado.

Existem algumas investigações em curso que apontam a possível contaminação de parte da política local. É por isso que a sociedade precisa ficar atenta para o desenrolar dos fatos, pois Roraima não pode ser dominado pelo crime organizado, sob pena de a criminalidade sair do controle, penalizando toda a população. É por isso que essa nova apreensão de drogas representa um alento de que as autoridades estejam atentas para evitar que o grande mal seja definitivamente instado no extremo norte brasileiro.

*Colunista

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