Depois do assistencialismo… O então governador Ottomar de Sousa Pinto (que Deus o tenha) implantou um misto de assistencialismo e paternalismo ao chegar para governar o então Território Federal de Roraima, na década de 1980, colocando praticamente toda população nas filas de distribuição de buchada, peixe, redes, mosquiteiros, brinquedos e até mesmo roupas. Era o paizão governo em práticas de aliciamento explícito sob a alegação de que estava somente ajudando as famílias mais necessitadas.
Obviamente que éramos um Território com uma população carente, situação que complicou com a ação do mesmo governador de trazer famílias pobres de nordestinos, enviadas para assentamentos agrícolas, que faziam parte de uma política chamada de colonização agrícola. Essa política fazia jus ao nome, pois eram famílias colonizadas que recebiam a terra, um punhado de dinheiro para construir um assentamento precário e fomentar o início de uma plantação qualquer, sem assistência técnica, sem estradas nem energia, muito menos escola e posto médico.
Mas era óbvio que isso iria dar errado, como acabou ocorrendo, logo em seguida, a partir da migração dessas famílias para inchar a periferia de Boa Vista. E para remediar isso, mais assistencialismo do paizão governo. Desde lá muitas pessoas se habituaram a correr para as filas do assistencialismo governamental, capitaneadas pela Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes). Essas filas se estendiam para os gabinetes dos deputados e vereadores, que alimentavam a prática nefasta.
Essa é a raiz de muitas famílias roraimenses e de migrantes que chegaram atraídos pelo governo da época. O Estado de Roraima conseguiu sua emancipação, no final dessa década de assistencialismo, com uma população vivendo de vale alimentação, políticos pagando conta de luz e passagens áreas, botija de gás e, mais recentemente, da gafanhotagem. Éramos muito semelhantes a uma venezuelização que muitos criticam.
A maioria das famílias conseguiu sobreviver a esse populismo assistencial, embora ainda exista uma grande parcela sobrevivendo de programas sociais ou esperando algum tipo de ajuda governamental. Então por que os imigrantes que estão chegando não podem sair dessa realidade degradante, apesar de no meio deles existirem os indolentes, delinquentes e até mesmo espertalhões? Tudo é questão de como os governantes irão direcionar as políticas públicas e humanitárias.
Não esqueçamos que também somos sobreviventes do garimpo desordenado, também na década de 80, quando ficamos apenas com a violência e a pobreza inchando nossa periferia depois que a garimpagem foi proibida. Então, se houver empenho dos governos, com maior responsabilidade do Governo Federal, a imigração desordenada também será superada e uma nova realidade poderá surgir.
*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main