Pequenos pecuaristas do Município do Amajari, cujas propriedades foram atingidas pelo fogo e pela forte estiagem, entraram em desespero diante da possibilidade de ficarem com um prejuízo bem maior. Eles estão em Boa Vista oferecendo para empresários locais o boi em pé a preço de R$2,00 o quilo. Sim: dois reais! Não há outra saída: ou vendem a preço irrisório ou o gado vai morrer de fome e sede.
Além de não ter mais pasto, que foi consumido pelas queimadas descontroladas e incêndios florestais, os lagos e açudes secaram completamente. As ações emergenciais para socorrer a população é inócua e o abastecimento de água mal dá para atender ao consumo humano. Se esses produtores já viviam em grandes dificuldades por falta de apoio governamental, agora a situação ficou insustentável.
A indignação desses produtores, que na verdade são micros pecuaristas, é porque a desassistência vem de longas datas, desde o grande incêndio de 1997/1998, quando a ação do governo estadual foi destinar recursos para cavar pequenos açudes nas propriedades rurais, chamados de “cacimbões” à época, os quais não serviram, consumindo grande quantidade de recursos federais de forma inútil.
O tempo passou e nenhuma outra medida planejada foi tomada desde lá, com o sofrimento se repetindo a cada inverno e verão. Mais recursos federais foram anunciados na semana passada, devido à forte estiagem e incêndios, no entanto, é muito provável que a realidade se mantenha a mesma, com medidas paliativas que consomem recursos emergenciais sem licitação e, pior, sem que nada seja fiscalizado.
Esses mesmos produtores citam como exemplo os recursos emergenciais utilizados ainda em 2022, por causa das chuvas, os quais foram usados para reformar a ponte sobre o Igarapé do Balde, na RR-203, entre a Vila Três Corações e Vila Brasil, que é a sede do Município do Amajari, atualmente interditada novamente sob ameaça de desabar. A estrutura só não ruiu porque estamos no período de seca, senão a ponte teria sido arrastada à primeira chuva.
Conforme a placa de identificação da obra, tratou-se de uma contratação emergencial para manutenção de pontes da madeira, cujo valor foi de R$650.465,03, com prazo de execução de três meses, com início em julho de 2022. No entanto, foi feita apenas uma pintura da madeira, sem que fosse feita qualquer manutenção na estrutura que sustenta a ponte.
Enquanto isso, os pequenos pecuaristas correm contra o tempo para que não fiquem no prejuízo total, com o gado morrendo de inanição em um campo sem pasto e sem água. Sem qualquer apoio governamental, ainda precisam passar pela indignação do que ocorreu com a ponto do Balde, onde recursos foram consumidos em uma obra que obviamente não foi fiscalizada como deveria.
Resta ao povo e aos pequenos produtores a falta de apoio básico, como escavação de poços artesianos, falta de calcário para o plantio, além da inexistência de qualquer tipo de assistência e financiamentos ou de ajuda no combate aos incêndios. E isso sem contar com o arrocho na fiscalização que não permite as famílias transitarem com pequenos animais para que sejam vendidos na feira, a fim de reforçar o orçamento familiar.
*Colunista