JESSÉ SOUZA

Devolução da Casa da Cultura e a grande dívida que ainda resta com a História

Casa da Cultura fica localizada na Avenida Jaime Brasil, o mais antigo centro comercial de Roraima (Foto: Secom/Governo de Roraima)

Um importante patrimônio cultural dos roraimenses foi devolvido ao povo após mais de uma década de abandono e descaso. A Casa da Cultura Madre Leotávia Zoller foi reinaugurada no domingo passado, dia 23, no coração da Avenida Jaime Brasil, o mais antigo centro comercial de Roraima, que precisa continuar respirando História para oxigenar nossas memórias.

Erguido na década de 1940 e que serviu como a casa dos primeiros governadores de Roraima quando ainda éramos Território Federal do Rio Branco, o prédio foi tombado pelo Governo Federal, em 2015, como Patrimônio Histórico do Estado pelo Governo Federal. Mas nem isso impediu sua completa deterioração. De local histórico, então tornou-se mais um símbolo do descaso com o patrimônio histórico e cultural local.

Quem viaja para outros estados sabe que Roraima é um local que sempre aparece na fala dos que desejam conhecer esse Estado distante dos grandes centros urbanos, especialmente a Capital, Boa Vista, reconhecida como cidade acolhedora pela sua estrutura turística e peculiaridade de ser arborizada, florida e com praças públicas bem estruturadas e movimentadas, algo não mais possível em grandes centros urbanos onde a criminalidade e o vandalismo imperam.

E esse encantamento turístico se estende por todo Complexo Ayrton Senna, se conecta com a Praça do Centro Cívico, onde estão as sedes dos poderes constituídos, e se completa no Berço Histórico de Boa Vista, local não apenas de prédios históricos, mas também pontos turísticos recém-erguidos que se integram aos novos tempos, a exemplo da Orla Taumanan e do Parque Rio Branco, onde está o imponente Mirante.

Ainda falta uma importante conexão para a sonhada integração turística: o Parque Anauá, o maior parque urbano da região Norte que, desde a década de 1980, vem passando pelo espinhoso e criminoso processo de abandono e descaso, embora o local sempre esteja no discurso dos políticos e com seguidos anúncios milionários de reformas e revitalizações intermináveis.

O Turismo tem a necessidade dessa conexão física do Parque Anauá com o Complexo Ayrton Senna, que é o local de boas-vindas de quem chega pelo Aeroporto Internacional de Boa Vista. E a desconexão só foi reforçada quando o prédio do Museu Integrado de Roraima (MIRR) foi demolido impiedosamente pela política do descaso e do descompromisso com a História e a Cultura roraimenses. A falta de sua reconstrução é só mais uma dolorosa constatação.

A reinauguração da Casa da Cultura é tão somente uma das muitas dívidas que a política tem com o povo roraimense, pois ainda falta devolver o Teatro Carlos Gomes, espremido ali entre o Centro Cívico e a Jaime Brasil, o qual caiu aos pedaços aos mesmos moldes dessa despolítica cultural que feriu de morte o Museu e arruinou outros prédios históricos largados ao esquecimento.  

Os defensores da História, da Cultura, da Arte e do Turismo não podem ter um só dia de descanso, pois no primeiro cochilo os governantes põem um prédio histórico ao chão, cortam verba para artistas ou passam o trator por cima de memórias e de belezas pelo simples descaso com que tratam o que não lhes interessa como política pública. A dívida ainda é muito grande.

*Colunista

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