Enquanto as autoridades roraimenses sequer tratam a imigração desordenada em suas prioridades, fingindo que o governo local não tem nada a ver com isso, o aumento gradativo da chegada em massa de venezuelanos voltou a preocupar o atendimento na maior unidade de saúdo do Estado, o Hospital Geral de Roraima (HGR), e no hospital de retaguarda, o Lotty Íris.
Como não tem parado de chegar imigrantes vindos da Venezuela, o reflexo imediato é a superlotação dos leitos, o que faz aumentar a fila de espera pelas cirurgias eletivas, aquelas que são marcadas previamente, e até provoca uma demora maior por quem precisa de cirurgias de emergência, pois é necessário esperar horas pela desocupação de um leito.
Há cerca de três semanas começou um processo de demora maior na fila por cirurgias. Pacientes internados ficam aguardando a vez pelo período de três a cinco dias. Tudo porque, além do aumento da demanda de estrangeiros que estão em Boa Vista, pacientes que moram no país vizinho têm recorrido ao HGR, em Boa Vista, já que a saúde pública de lá não funciona mais.
Para se ter uma noção da grande demanda e do problema que se avoluma, em apenas um dia, na semana passada, cinco pacientes venezuelanos deram entrada no centro cirúrgico da emergência do HGR, vítimas de acidentes de trânsito na cidade de Santa Elena de Uairén, que faz fronteira com Pacaraima, Norte do Estado.
Pacientes remanescentes da grande crise na saúde que se avolumou desde o governo anterior acabam sem conseguir atendimento, pois a prioridade na fila de cirurgia é para pacientes que estão com mais de um ano de espera. Quem tem menos tempo precisa aguardar mais um pouco. Aqueles que estão com exames vencidos precisam refazê-los para que possam novamente voltar ao setor de marcação de cirurgias do HGR.
Como a diáspora venezuelana continuará por tempo indefinido, cabe às autoridades estarem preocupadas com o cenário que está se desenhando em Roraima, mais uma vez, desde que imigração em massa começou. Porém, sequer o Governo do Estado fala mais sobre o assunto. Muito menos a bancada federal, que age com um discurso de voz grossa em Roraima e se coloca como cordeirinho imolado e;m Brasília.
Mas os sinais sobre a necessidade de mais atenção ao problema vêm sendo emitidos internacionalmente. A Análise das Necessidades de Refugiados e Migrantes (RMNA) para 2023 já levantou a questão, apontando que quatro milhões de refugiados e migrantes da Venezuela lutam para acessar necessidades básicas nas Américas, sendo necessário tomar uma atitude, a exemplo de aumento do financiamento para os países da América Latina e do Caribe.
“Novos investimentos podem salvar vidas, proporcionar estabilização duradoura e oportunidades de integração para milhões de pessoas refugiadas e migrantes, inclusive aquelas de outras nacionalidades em trânsito, evitando que embarquem em jornadas perigosas. O apoio às comunidades de acolhida também continua urgente”, diz a análise conduzida pela Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V), coliderada pela Agência da ONU para as Migrações (OIM) e Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Em Roraima, as autoridades preferem o silêncio, enquanto os políticos e governantes só conseguem enxergar as eleições municipais que se avizinham. Não existe uma política efetiva para fazer gestão junto ao Governo Federal e outras instituições a fim de encontrar soluções o mais breve possível. E isso enquanto os servidores do HGR pedem socorro para o sistema não colapsar em breve, caso algo não seja feito. A Saúde é apenas uma parte do grande problema.
*Colunista