Jessé Souza

Diferenca dos centavos Parte II 4345

Diferença dos centavos (Parte II)Não são apenas os venezuelanos que estão sendo habituados a pedir esmola ou simular que estão trabalhando limpando para-brisas de carros. Há muitos brasileiros também que estão sendo incentivados a não trabalhar porque se habituaram às moedas, seja “privatizando” os estacionamentos públicos, simulando que estão vigiando carros e motos, seja pedindo em restaurantes de praças públicas.

No mês passado, ao ir à praça de alimentação da Praça das Águas, no complexo Ayrton Senna, um homem de muleta passava de mesa em mesa pedindo dinheiro. Eu já andava desconfiado dele desde quando o vi passando entre os carros no semáforo do Centro, perto da Avenida Jaime Brasil.

Questionei a deficiência dele e, aborrecido, ele tirou a perna esquerda muleta, subiu a calça até o joelho e mostrou uma cicatriz de um grave ferimento na panturrilha. Repliquei: “Isso aí não é deficiência. Vá trabalhar”. Foi o suficiente para se armar um bate-boca estridente na praça de alimentação. Para resumir a história, ele pegou a bicicleta e saiu pedalando por entre as mesas da praça de alimentação, fazendo ameaças.

Não faz muito tempo, no mesmo semáforo do Centro, um senhor com uma cicatriz de cirurgia na barriga passava, entre os carros, com uma receita médica pedindo moedas aos motoristas. Era visível que ele mesmo arranhava a cicatriz para que ela ficasse sempre sangrando e assim comover as pessoas. E muitas vezes isso dava certo.

No passado, uma senhora gorda que usava uma saia que parecia de baiana de carnaval e simulava não ter uma das pernas. Ela ficava em frente ao Bradesco, também ali na Jaime Brasil. Apenas cruzava as pernas de uma maneira que parecia mesmo ser deficiente física. No fim do “expediente”, no final da tarde, ela se levantava normalmente e ia embora para sua casa com o bolso cheio.

Comento isso para ilustrar o quanto os boa-vistenses, com suas moedinhas de piedade, já alimentaram a malandragem nos semáforos, calçadas e praças públicas. E o momento social crítico pelo qual passamos, com a migração em massa de venezuelanos, requer uma reflexão para que os cidadãos não alimentem a mendicância, a qual leva à malandragem.

Nós já alimentamos muitos malandros e não podemos, por pena cristã ou culpa católica, achar que vamos ajudar com nossas moedinhas que não nos fazem falta. A esmola de hoje pode fazer surgir a malandragem do amanhã. Os haitianos estão aí para comprovar que trabalhando ganhando pouco, como picolezeiro, dá para sobreviver sem as esmolas da caridade.

*[email protected]: www.roraimadefato.com.br