Jessé Souza

Do simulacro a pornotizacao 20 01 2015 521

Do simulacro à ‘pornotização’ Jessé Souza* As redes sociais possibilitam uma visão mais ampla sobre o que as pessoas estão pensando e também se comportando em suas vidas até na intimidade. E um fato que tem ganhado visibilidade na internet são vídeos de crianças (sim, crianças ainda bebês de 2 anos de idade) dançando como se fossem dançarinas de músicas eróticas. Esses são os casos mais graves, mas são cenas comuns meninas de 10 a 15 anos se exibindo em “danças de acasalamento” que seriam impensáveis há poucos anos atrás. Dentre esses vídeos, há os que mostram pais e mães que, ao flagrarem suas filhas praticando essas danças em casa ou nas proximidades da escola, vão buscá-las na base do safanão. O espaço é limitado para tratar da complexidade da questão, pois são vários fatos relacionados: pais que incentivam e acham bonito suas crianças ainda bebês sendo não mais erotizadas, e sim “pornotizadas” (hipnotizadas pela dança pornográfica), meninas na pré-adolescência simulando sexo por meio de danças e, ainda, pais perdidos, sem saber o que fazer, agindo ao extremo na tentativa de “salvar” suas filhas enquanto eles acham que ainda é tempo. Já li alguém dizendo que essas danças não passariam de simulacro, a exemplo do que ocorre em festas de funk, principalmente, algo inocente, um ritual de diversão. Talvez seja mesmo uma simulação da realidade o que os jovens fazem nas danças de forró e funk, em especial, mas isso não se encaixa quando as personagens são meninos e meninas abaixo dos 10 anos de idade praticando esse “simulacro de sexo” em forma de dança, como mostram os fartos vídeos no Facebook. A “pornotização” das crianças é a porta de entrada para que se fixe a imagem da mulher, desde criança, como objeto sexual, a exemplo das peças publicitárias. E também alimento para pedofilia e para crimes de abuso sexual contra crianças e adolescentes, além dos estupros praticados contra mulheres de todas as idades e classes sociais. O que as redes sociais estão mostrando é a banalidade da pornografia por meio das danças, que muitas vezes contam com o apoio de pais que não apenas permitem que suas crianças pratiquem a “dança da moda” como fazem o vídeo e o disseminam nas redes sociais como se fosse gracioso ver as cenas. Uma criança erotizada é um caminho sem volta, pois esta crescerá com um caráter e uma educação desvirtuados, com reflexos imediatos, a exemplo da gravidez muito precoce, a aceitação da pornografia como algo normal (daí é um passo para a prostituição) e abandono da escola, pois o ambiente escolar passa a se tornar algo desinteressante e inútil.  Mas, enfim, o debate está aberto, uma vez que o tema é muito amplo. Se os pais estão falhando e até contribuindo para o agravo do problema, então seria a hora de a sociedade agir. Senão, que futuro teremos nesse Brasil da “pornotização” das crianças? *Jornalista [email protected]