JESSÉ SOUZA

Dois anos de ações repressivas ao garimpo e um poderio difícil de ser combatido

Operação Catrimani II realiza ações de combate ao garimpo ilegal na Terra Yanomami desde 2024 (Foto: Divulgação)

A notícia da queda de uma aeronave no Rio Uraricoera, no domingo, com a morte de duas pessoas, é a confirmação de que o garimpo ilegal continua ativo na Terra Indígena Yanomami, apesar das ações da Operação Catrimani II que, desde dezembro de 2024, vem agindo de forma preventiva e repressiva em conjunto com órgãos de Segurança Pública, agências e Forças Armadas, em coordenação com a Casa de Governo em Boa Vista.

No dia 20 de janeiro passado, as operações federais na Terra Yanomami para combater o garimpo ilegal, a desnutrição e a violência contra os povos indígenas completaram dois anos, apresentando dados positivos: 3.536 operações em 2024, com redução de 91% dos garimpos consolidados, 95,76% de redução na abertura de novos garimpos e queda de 68% em relação a mortes por desnutrição no primeiro semestre de 2024 em comparação a 2023.

Por sua vez, a Polícia Federal (PF) abriu 350 inquéritos e indiciou 720 pessoas em Roraima desde fevereiro de 2023, quando começou uma operação para deter o garimpo ilegal e proteger a terra indígena. A Operação Libertação foi deflagrada 21 dias após o Governo Federal ter declarado emergência em saúde pública para combater a desassistência aos indígenas desde a explosão do garimpo ilegal.

Apesar de todos esses dados, ainda não foi possível acabar com a exploração ilegal de minérios na Terra Yanomami. Não se trata apenas das dificuldades impostas pela imensidão da floresta inóspita da região, mas principalmente porque a atividade criminosa é mantida por gente com dinheiro e poder, as quais financiam o garimpo ilegal e fazem a cooptação de autoridades, empresários, policiais, políticos e outros.

Basta ter como exemplo um recente caso que se desenrolou este mês em que seis denunciados se tornaram réus por operar um grande esquema de comercialização ilegal de ouro e cassiterita que movimentava milhões em Roraima. Na lista dos denunciados pelo Ministério Público Federal junto à 4ª Vara da Justiça Federal estão um policial militar e três empresários, acusados de crimes de extração ilegal de recursos minerais, posse ilegal de armas e prevaricação.

A cooptação pelo crime não é de hoje. Não se pode esquecer que, ainda em 2019, investigações apontaram que militares do 7º Batalhão de Infantaria da Selva (BIS) do Exército participavam de um grupo de Whatsapp com garimpeiros para informar sobre ações que seriam desencadeadas contra o garimpo ilegal na Terra Yanomami. E tudo sob as vistas grossas de militares da região e até do então presidente da Funai da época, Marcelo Xavier.

As conexões chegaram inclusive na política partidária, onde um vereador reeleito, que já era investigado por envolvimento com o tráfico de droga, chegou a ser preso por crime eleitoral e, com ele, foi apreendida uma pepita de ouro que provavelmente tem origem ilegal. Tem até policial militar de alta patente, junto com um parlamentar, investigado por venda ilegal de armas e munições inclusive para garimpeiros. Fora outros policiais militares presos por envolvimento com o garimpo.

Com todo esse enredo, que ainda inclui facções criminosas atuando, é fácil entender o motivo pelo qual o garimpo ilegal resiste, apesar de todas as ações repressivas e operações realizadas pela PF. O garimpo tornou-se uma instituição criminosa que resiste devido ao seu poderio dentro da sociedade.

*Colunista

[email protected]