Em um ano eleitoral, quando iremos às urnas para escolher prefeitos e vereadores, é imprescindível que o eleitor esteja atento aos acontecimentos políticos – e também às operações policiais. Enquanto os olhares estão direcionados para algumas regiões do Estado que ardem em fogo devido aos incêndios e queimadas descontroladas, dois municípios foram alvo de acontecimentos importantes, nesta terça-feira, que dizem respeito à aplicação de recursos públicos.
No Município de Alto Alegre, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) colocaram em execução uma operação que apura possíveis irregularidades em um contrato de aproximadamente R$1,5 milhão celebrado com indícios de superfaturamento pela Prefeitura ainda no período da pandemia da Covid-19, no ano de 2020 (e se procurar em outros municípios, vão achar também situações semelhantes, onde borrifar era sinônimo de engabelar e embolsar). Não é a primeira vez que este município é alvo de investigações.
Em outro caso, o ex-prefeito do Município do Cantá, Carlos José da Silva, o ex-secretário de Finanças, Ronyer Bezerra, e a ex-secretária de Educação, Elisângela Rodrigues Santos, foram condenados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) a devolverem aos cofres do Fundo Municipal de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação de Cantá (Fundeb) o valor de R$ 2,1 milhões, o qual eles não conseguiram comprovar a execução das despesas.
Apesar de acontecimentos novos, não se trata de fatos isolados. Existem outros prefeitos envolvidos em alguma investigação sob suspeita de corrupção. A começar por Alto Alegre, onde prefeito e ex-prefeito foram cassados e acabaram atrás das grades. Ocorreram outros casos de cassações nos últimos anos, com destaque ao caso do prefeito e vice do Município de Pacaraima, ambos acu8sados de compra de votos com distribuição de cestas básicas e de brindes no Dia das Mães.
Historicamente, sempre existiram denúncias contra prefeitos sob acusação de várias irregularidades envolvendo má aplicação de recursos públicos ou corrupção eleitoral, cujos casos deixam oculto uma realidade de prefeitos e vereadores que aumentaram seus patrimônios ao longo dos anos enquanto as cidades que eles administram continuam definhando com a falta de estrutura e a pobreza de sua população.
Em muitas cidades do interior, as prefeituras não cuidam do básico, que é o visual de entrada da cidade, cujo cenário de matagal, ruas esburacadas ou enlameadas, lixo e prédios públicos sem manutenção são o cartão de visita. No entanto, as propriedades particulares de prefeitos e vereadores esbanjam ostentação em meio a uma população que mal consegue ter uma moradia digna. É uma contradição flagrante e uma conta que não fecha em se tratando de sinais exteriores de riqueza.
Em outra ponta está o eleitor nos municípios, cego por encantamentos das serpentes, em que sobra um pouco de migalhas desse grande banquete que é servido antes e durante o período eleitoral, além dos benefícios pessoais para que um seleto grupo de pessoas só enxerguem campanha eleitoral o tempo todo, em troca de cargos ou benesses, enquanto os políticos só reaparecem quatro anos depois.
Enquanto essa for a realidade, dificilmente será mudado o cenário de somente os políticos se tornando ricos e a população com uma cidade pobre, suja e feia, com pontes de madeira caindo aos pedaços, estradas e vicinais na lama e na buraqueira, sem assistência mínima a quem produz para abastecer as cidades, além de incêndios e queimadas que ocorrem enquanto os políticos fingem que nada podem fazer.
Prefeitos cassados e indo parar na cadeia sempre são uma minoria e, muitas vezes, o fato nem desperta indignação nos munícipes, os quais sempre têm seu corrupto favorito. A maioria das prefeituras sequer é acossada por uma fiscalização de verdade. No entanto, as operações policiais e as condenações pelo TCE estão aí, para lembrar que algo precisa ser feito para mudar esse quadro.
*Colunista