Dos EUA ao BrasilMuitas pessoas costumam apontar para os Estados Unidos como exemplo de democracia e de país que têm medidas austeras para punir que não respeitas as leis, inclusive crianças. Mas nem sempre foi assim. Os EUA já foram um dos países mais corruptos do mundo, mas conseguiram se reerguer e hoje têm instituições fortes e consolidadas.
Os EUA também já foram os maiores matadores de índios, mas reconheceram seus erros e repararam os índios, os garantindo não apenas terras para recompensar o que foi feito no passado, mas também permitiram que os índios criassem inclusive estados, com suas próprias leis e sua autonomia, conforme a Constituição de lá permite.
Os EUA também já foram um país escravagista e até uns tempos atrás, depois de abolir a escravatura, praticavam o apartheid, com negros sendo tratados como se fossem seres inferiores ou mesmo uma sub-raça. E hoje é uma nação que conseguiu superar isso, muito embora o preconceito e o racismo sejam uma vigilância eterna.
Enfim, as pessoas tratam os EUA como se fossem um país sempre pronto e acabado, “polícia do mundo”, sempre um exemplo a ser citado quando se trata de Brasil, arrasado pela corrupção e pelas mazelas que advém dela. Porém, não imaginam ou não sabem que os norte-americanos também foram colonizados e tiveram forças e Inteligência para se tornarem o que eles são hoje, com uma democracia forte.
Voltando ao Brasil de 2016, vemos a formação de uma turba, a partir das redes sociais, achando que o país terá uma solução rápida, como se fosse uma mágica – a “mágica do impeachment”, “mágica da intervenção militar”, “mágica do Moro”, “mágica de pastores televisivos” que acham que têm a procuração para falar e decidir em nome de Deus.
Limpar o Brasil será um processo longo e doloroso, mas sempre dentro da democracia, cada segmento social respeitando o espaço e as conquistas dos outros. Ainda que não haja mágica nem truque para o Brasil fora de democracia, um extremismo burro tem ganhado força cada vez mais a partir das redes sociais.
Trata-se de um momento delicado, pois muitos lutaram para que o Brasil retomasse o trilho da democracia, e por ela até morreram, para um segmento extremista, que não quer enxergar os riscos que estamos correndo, sequer saber lidar com a opinião do outro, partindo para a agressão ao invés de debater os fatos.
O debate tem sido trocado pelas agressões, a reflexão substituída por chavões e a lucidez por uma histeria. Se quisermos um país forte, é essencial que a democracia seja a base de sustentação. Não podemos achar que os EUA são um exemplo a ser seguido só porque hoje é uma potência. Ele é uma potência porque optou pela democracia até as últimas consequência, mesmo tendo recebido colonos que pertenciam a diferentes grupos sociais e religiosos. E o Brasil precisa se alertar para isso.
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