Bom dia,

As urnas falaram e a partir do dia de 1º de janeiro próximo o Brasil terá um novo presidente da República, Luís Inácio da Silva (PT), e um novo governo. A diferença entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, foi de menos de 2% dos votos válidos. Mas, não importa a quão pequena ela tenha sido, é suficiente para definir mudanças profundas na forma de administrar o Estado brasileiro, com reflexos profundos na sociedade tupiniquim. Ainda é muito cedo para se tirar as conclusões sobre os motivos que levaram Lula à vitória e Bolsonaro a ser o primeiro presidente que disputou, e perdeu uma reeleição desde a redemocratização com a vitória de Tancredo Neves no colégio eleitoral e a posse de José Sarney, nos idos de1985.

De qualquer forma, parece fora de dúvida que na média da votação, o Brasil está dividido quanto à opção política. Lula venceu por conta da esmagadora votação que obteve no nordeste e nos dois maiores colégios eleitoral da região norte, Pará e Amazonas. Por que somos brasileiros com visão de mundo e de governo tão diferentes? Tai um desafio para que cientistas políticos, sociólogos e outros cientistas sociais tentem explicar. Será a pedagogia da pobreza? A crença de que o Estado pode resolver todos os problemas de fome e de desigualdade? Ou será culpa do processo educacional, que ideologicamente é mais informativo de opções políticas e menos formador de uma educação para criar cidadãos e cidadãs preparados para enfrentar os enormes desafios que o mundo nos apresenta?

Sejam quais forem as razões, o certo é que teremos a partir do próximo ano mudanças profundas no modo de governar o Brasil. Sai um presidente e um governo que professa menos intervenção e mais mercado na economia, e entra outro que acredita piamente que o Estado precisa ser maior e mais interventor na relação entre os agentes econômicos. Se mantiver o discurso de campanha, Lula vai tentar rever até mesmo algumas privatizações que Bolsonaro fez, inclusive no setor elétrico e na retomada da política de maior estatização de Petrobrás. É uma estratégia que deverá custar muito dinheiro público, num país que tem uma dívida pública já nas alturas.

Nos primeiros discursos depois da publicação do resultado, apesar de falar em reunificação do país, Lula não mandou sinais de pacificação ao adversário. Jair Bolsonaro, sequer cumprimentou o adversário pela vitória obtida. Foi para o Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, apagou as luzes e foi lamber as feridas a derrota, numa clara demonstração de não aceitação do resultado. Nesse ambiente, não parecem alvissareiros as expectativas de que é possível reunificar o país pelo menos em curto prazo. De qualquer forma, resta torcer para que isso corra, o Brasil precisa disso.

E AGORA?

Ainda no segundo turno, os bolsonaristas utilizaram a narrativa de que os eleitores e as eleitoras haviam escolhido um Congresso Nacional (um terço do Senado Federal e a totalidade da Câmara dos Deputados) bem mais ao centro e à direita. De um lado diziam que essa maioria, eleita sob inspiração do bolsonarismo iria facilitar os avanços e as reformas de um eventual segundo mandato de Bolsonaro. De outro lado, numa eventual vitória de Lula da Silva, o Congresso Nacional renovado seria um contrapeso fundamental para evitar qualquer arrobo do novo governo. Passados os primeiros momentos do final do processo eleitoral já é possível enxergar que boa parte dos parlamentares eleitos e reeleitos faz parte do mesmo fisiologismo que é a marca do político mediano no Brasil. Já tem muita gente apostando que Lula da Silva não terá grande dificuldade para formar uma base de apoio razoável, tanto no Senado Federal quanto na Câmara dos Deputados.

NEGOCIARÃO 1

Na Câmara Federal, o presidente Arthur Lira, alagoano do PP, quer continuar no mesmo posto. Foi um dos primeiros a cumprimentar o presidente eleito, com discurso de que é preciso respeitar o resultado da eleição e mandando recado de que está à disposição para dialogar com ele para trazer governabilidade ao novo governo. É claro, está sendo iniciado um processo de negociação para receber de Lula o sinal verde para que os poucos mais de 130 votos de parlamentares eleitos por partidos de esquerda sejam o suficiente para evitar qualquer aventura de outros partidos para lançar candidatos contra ele. No caso, se prevalecesse a tradição, o novo presidente da Câmara dos Deputados sairia das hostes do PL, que elegeu 99 deputados federais.

NEGOCIARÃO 2

No Senado Federal, Rodrigo Pacheco, mineiro do PSD, que já apoiou Lula no primeiro e segundo turno; que também contou com os votos dos senadores petistas na primeira eleição, foi igualmente um dos primeiros políticos a cumprimentar Lula pela vitória. Com a mesma narrativa de Arthur Lira, Pacheco disse ao novo presidente que está à inteira disposição para iniciar um diálogo construtivo de apaziguamento dos políticos brasileiros. É claro, o mineiro vai colocar na mesa de negociação sua própria reeleição para presidir de novo o Senado Federal. Vai certamente ter o apoio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que retribuirão o fato de Pacheco ter engavetado os mais de cem pedidos de impeachment contra alguns deles.

E RORAIMA?

Ainda não é possível avaliar as consequências para Roraima do novo governo que se instalará no Palácio do Planalto a partir do ano que vem. E amanhã vamos comentar algumas dela, embora seja possível de prever uma ação enérgica do novo governo contra o garimpo – Lula nunca escondeu esse desejo-, e certamente o novo governo vai reatar as relações diplomáticas com o governo de Nicolás Maduro, com claros reflexos na migração de venezuelanos para o Brasil e para Roraima.           .                    .