É preciso pôr a discussão em pauta antes que precisemos chorar e enterrar nossos mortos
Jessé Souza*
O caso do adolescente de 16 anos que invadiu duas escolas no Espírito Santo, matando quatro pessoas a tiros e deixando cerca de dez feridos, na semana passada, acende uma luz vermelha sobre a realidade que estamos vivendo hoje, no país, diante do extremismo que se alastrou a partir do resultado das eleições deste ano.
Trata-se de uma situação que precisa ser discutida pelos educadores, pois desta vez o criminoso estava usando uma braçadeira com símbolo nazista, o que revela a necessidade de as escolas discutirem seriamente sobre o nazi-fascismo e a convivência com as diferenças dentro da sociedade. A escola precisa manter essa discussão sempre em pauta, antes que seja tarde.
Até aqui, haviam posicionamentos de que seria exagero de esquerdista afirmar que estaria em crescimento o nazismo e o fascismo no país, uma vez que não havia relação de qualquer movimento organizado nos oito ataques a escolas públicas e privadas nos últimos onze anos. Agora há um fato concreto de um adolescente criminoso usando uma suástica no braço.
Dentro desse contexto social que se construiu no país, nos últimos anos, a outras preocupações não menos urgente, uma vez que até mesmo a palavra “direitos humanos” foi desvirtuada por discursos de extrema direita, como se isso fosse algum instrumento de defesa de bandidos e desocupados, ignorando inclusive o que preceitua a Lei maior de nosso país.
O artigo 5° da Constituição afirma que todos somos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Essa é a base dos direitos humanos que nos é assegurado constitucionalmente.
Não há como discutir o crescimento do neo-fascismo sem falar em direitos humanos em um país onde o extremismo saiu da toca, mostrando que um parcela considerável da sociedade tem grande dificuldade de lidar com as diferenças especialmente no campo da política, cuja divergência algumas vezes foi transformada em atos de violência.
Até chegarmos a essa encruzilhada, a grande preocupação eram os atos e comportamentos discriminatórios e racistas, mas o extremismo subiu vários degraus da incivilidade, chegando a ferir princípios do respeito, da dignidade e das diferenças cultural, econômica, política e social.
Criou-se um terreno fértil muito perigoso, especialmente para crianças, jovens e adolescentes, os quais pensam em sair da condição de perseguidos e incompreendidos por serem diferentes para que adotassem atos e discursos extremistas que eles passaram a ver e ouvir na internet ou presenciar dentro de casa.
Se as famílias estão falhando e a sociedade não consegue fazer frente ao extremismo, então a escola precisa ser esse local de discussão permanente como forma de frear essa cultura perigosa que começa a tomar conta do Brasil. Somos um país de grandes desigualdades, o que pode ampliar ainda mais essa dificuldade de muitos em não saberem conviver com a diferença.
Nas últimas semanas, houve inclusive casos de escolas particulares onde estudantes de país ricos e influentes atacaram colegas pobres, negros e cotistas apenas por esta pequena parcela da comunidade escolar ter votado e apoiado o candidato da esquerda. Teremos um futuro sombrio se isso não for contido com todas as forças dentro da lei.
Em Roraima, nunca houve um caso de atentado dentro de escolas, a não ser ameaças que mais pareçam trotes ou fake news de quem quer tumultuar a paz na sociedade. Então, antes que algo de ruim possa ocorrer, é necessário pautar essa discussão dentro de sala de aula, antes que precisemos chorar e enterrar nossos mortos.
*Colunista