AFONSO RODRIGUES

Ele é o cara

“A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia, e o sábio necessidade de solidão”. (Fredrich Rückert)

Chegamos, eu e ele, a Roraima em 1981. Foi uma batalha de aventureiros, quando na verdade só queríamos Roraima. Foi uma história bonita, numa luta renhida. Logo ele casou-se e voltou para São Paulo. Em 1997 ele foi atingido por uma doença considerada letal, a ELA-Esclerose Lateral Amiotrófica. Foi o início de uma batalha que exigiu coragem, determinação e muita dedicação. A doença foi diagnosticada no Rio de Janeiro, só em 1999, e o hospital afirmou que ele não passaria do ano dois 2001, que é o prazo máximo para a doença. Foi aí que decidi ir para São Paulo ficar com ele. Viemos para Boa Vista passar seu último Natal com a família. Passado o Natal voltamos para São Paulo, onde fiquei cinco anos acompanhando-o numa batalha considerada invencível. Ele iniciou o tratamento numa clínica particular, aonde íamos todos os dias da semana, por anos a fio.

Certo dia ele acordou e falou:

– Pai… tomei uma decisão: se essa doença não me matou até hoje, não vai ser ela que vai me matar, e fim de papo.

Saímos para a clínica, e quando passávamos pela calça da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, ele parou e falou:

-Pai… por que eu não ir fazer a faculdade na USP?

– É isso aí filho, vá em frente.

Anos depois, eu já estava de volta a Boa Vista, e ele formou-se em Letras, na USP de São Paulo. Hoje ele mora na Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo. Certo dia ele me telefonou dizendo que iria treinar parataekwondo. Apoiei-o e ele foi em frente. Hoje, seu estado físico e sua idade, já não permitem mais a prática do esporte, mas ele continua firme e forte, e com três medalhas internacionais, em parataekwondo: uma de bronze, uma de prata, e uma de ouro. Ele tem duas filhas, uma das quais é advogada ativa. Ele está, hoje, passando uns dias conosco, em Boa Vista, mas daqui a pouco estará de volta à sua casa, na Ilha Comprida. E mais um detalhe importante: no final da década dos noventas, ele foi revisor da Folha de Boa Vista. E está, apesar do seu estado físico bem fragilizado, exercendo atividades profissionais que nos orgulham. Seu nome é Alexandre Magno Rodrigues de Oliveira. Um cara que é um orgulho para toda a família que o admira, e muito. Um exemplo de coragem e determinação. Uma das poucas pessoas, mundo a fora, que resistiram à força letal de ELA. Durante muitos anos ele foi assistido pela ABRELA, Associação Brasileira da Ela, em São Paulo. E que nos sirva de exemplo para enfrentarmos a luta, seja ela qual for. Pense nisso.

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