AFONSO RODRIGUES

Ele só queria liberdade

“Para que levar a vida tão a sério, se a vida é uma alucinante aventura da qual jamais sairemos vivos”. (Bob Marley)

Quando chegamos a Roraima e nos instalamos na Confiança I, no Cantá, ele tinha sete aninhos de idade. Um garoto muito ativo, nascido e criado no Rio de Janeiro. Agora, imagine uma criança nascida em Higienópolis, um dos bairros mais importante do Rio, se instalar dentro das matas da Confiança. E isso quando ele tinha apenas sete aninhos. Você não imagina o quanto sofri, vendo o quanto a família sofria o incômodo das diferenças. Mas isso não me intimidava, desde que minha chegada foi uma decisão. E com isso minha intenção era fazer o melhor para todos. E o mais importante foi que tive o apoio de todos os filhos, com respeito, carinho e dedicação. Não éramos agricultores. Só queríamos viver num ambiente saudável. E o carioquinha me parecia estar fora do ambiente.

Certo dia, pela manhã, eu cuidava dos animais, quando o carioca chegou. Aproximou-se e nem mesmo me fitou, e falou:

– Pai… amanhã bem cedinho eu vou fugir de casa.

Sem me surpreender, por já conhecer o comportamento do carioca, lhe perguntei qual o motivo da fuga e para onde ele iria. Ele me disse que não tinha nenhum destino, marcado, mas iria para a Confiança II, onde construiria um tapiri e iria morar. Concordei com ele e não lhe perguntei o motivo da decisão. Afinal, um carioca com sete anos de idade já sabe o que quer na vida e da vida. Senão não seria carioca. Não o incentivei, mas não o critiquei, pena imaginei o que a Salete faria se soubesse do plano do carioca. Na manhã seguinte eu já cuidava dos animais quando o carioca chegou e foi se despedir de mim. Conversamos um pouco, até que a Salete nos chamou para o café. Nem precisei convencê-lo para desistir da saída e irmos tomar o café da manhã. Ele simplesmente me acompanhou, tomamos o café e nunca mais tocamos no assunto da fuga frustrada.

As crianças sempre foram as mesmas. Os pais é que sempre foram e continuam sendo diferentes. O carioca, hoje, é um oficial da PMRR, e membro do que eu mais amo e adoro na minha vida, que é minha família. E como o amor não se mede, ele se estende a todos da família, inclusive os chegados por associação humana e merecedora de respeito. Cuide de sua família como a maior riqueza que você tem. Porque é nela que você constrói a felicidade conjunta. Nunca, em hipótese nenhuma, permita que sua família não o respeite, por não ser respeitada. Mesmo que você não concorde com a atitude do seu filho, ou filha, não o repreenda, apenas procure um meio de fazer com que ele se encontre. Pense nisso.

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