Não houve nenhuma surpresa em relação ao resultado das eleições que reconduziram o ditador Nicolás Maduro à Presidência da Venezuela, uma vez que tudo já vinha sendo desenhado bem antes de o processo eleitoral ser deflagrado no país vizinho. Até a encenação de invasão a um território na Guiana fez parte do grande enredo montado pelo regime bolivariano.
Surpresa mesmo foi a reação da população venezuelana que foi às ruas para protestar contra a permanência de Maduro sob fortíssimas suspeitas de fraude eleitoral, cujas manifestações que começaram ainda na noite de domingo já deixaram ao menos onze mortos, conforme as agências de notícias divulgaram até ontem à noite.
Na fronteira com o Brasil a realidade segue a mesma, com centenas de venezuelanos fugindo do seu país, cuja porta de entrada é o Estado de Roraima. O fluxo só tem aumentado a partir de quando eles descobriram a facilidade de acessa benefícios sociais, como o Bolsa Família e, ainda, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), chamado popularmente de “aposentadoria” para idosos e pessoas com deficiências, sem precisar comprovar contribuição social.
O BPC é concedido para pessoas com 65 anos ou mais, além de pessoas com deficiência com qualquer idade, desde que comprovados os impedimentos de, no mínimo, dois anos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. Já existe até um esquema montado no país vizinho que promete facilidades no acesso a essa “aposentadoria”. Realmente, há algo muito estranho, uma vez que os estrangeiros conseguem esses benefícios enquanto muitos brasileiros lutam pelo reconhecimento de seus direitos.
Além dessa corrida em busca da suposta facilidade de se conseguir abrigo em Boa Vista e farta ajuda dos governos, do lado de cá da fronteira o que não faltam são oportunistas que se aproveitam da situação do país vizinho para tentarem algum dividendo político neste momento eleitoral municipal, aparecendo até pessoas convocando venezuelanos para manifestação na Praça do Centro Cívico.
Fora os agitadores de ocasião, os quais se engajam em publicações nas redes sociais tentando fazer comparações extremistas entre a realidade da política brasileira com a realidade da ditadura venezuelana com intuito também de insuflar o extremismo de direita no país. Sem contar que os mesmos que pedem fiscalização na Venezuela são os mesmos que nunca fiscalizaram nada na política em seus municípios.
Se espremer toda essa realidade vivida no extremo norte brasileiro, o que resta mesmo é um suco de silêncio e de conivência das autoridades brasileiras a respeito da situação da chegada em massa de venezuelanos em Roraima. Os abrigos não comportam mais e não se vê nenhum parlamentar falar com tanta propriedade e arroubo a respeito desta situação quanto eles falam sobre Nicolás Maduro.
A panela de pressão não tardará a estourar, caso as autoridades não se atentem para o que está acontecendo do lado de cá da fronteira.
*Colunista