JESSÉ SOUZA

Enquanto cresce exploração ilegal de madeira, surge alerta no Sul do Estado

Vídeo publicado por organização mostra intenso tráfego de caminhões madeireiros em Baliza (Imagem: Divulgação)

Enquanto o Governo Federal volta os olhares para o reconhecimento de emergência no Município de São João da Baliza, no Sul de Roraima, devido à estiagem prolongada, as madeireiras aproveitam esse período de seca na região, quando as estradas estão trafegáveis, para intensificar suas atividades de desmatamento, na sua maioria de forma ilegal e sem fiscalização.

Sob as vistas grossas das autoridades municipais, o tráfego de carretas com imensas toras de madeiras tornou-se intenso na avenida principal de Baliza, que é o trecho urbano da BR-210. Um vídeo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Sustentabilidade (INBS), em seu perfil na rede social Instagram, mostra a grande movimentação de carretas dia e noite.

Sob o título “A rotina diária em São João da Baliza, Roraima”, a publicação de sete dias atrás faz o alerta com a seguinte legenda: “O vídeo retrata a movimentação de caminhões transportando grandes quantidades de madeira indicando atividade de desmatamento. O Município está localizado no coração da Amazônia”.

Os números oficiais confirmam o alerta. Conforme Levantamento do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), formado pela rede de instituições de pesquisa ambiental, a exploração madeireira cresceu 584% em Roraima. Os dados apontam que o total de 11.442 hectares de floresta foi explorado para extração de madeira no Estado de Roraima entre agosto de 2022 e julho de 2023.

De toda a extração madeireira mapeada, 82% (9.319 hectares) ocorreu de forma não autorizada e 18% (2.103 hectares) de forma autorizada, o que significa que a maior parte da madeira extraída em florestas de Roraima não tinha plano de manejo autorizado pelo órgão competente e foi alvo de ação ilegal. Os dados constam no Sistema Compartilhado de Informações Ambientais (Siscom) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Os municípios com mais exploração madeireira não autorizada são: Caracaraí, Rorainópolis, São Luiz do Anauá, Mucajaí, Caroebe, Cantá e São João da Baliza. Entre os Assentamentos Rurais mais explorados estão o Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) Anauá, o Projeto de Assentamento (PA) Cupiuba, o PA Trairi, o PA Ladeirão, o PA Integração e o PA Jatapu. Ou seja, os números justificam a grande movimentação de toras de madeiras sendo transportadas em Baliza.

O alerta sobre o que se passa no Sul de Roraima é emblemático, pois é de conhecimento da sociedade que os eventos climáticos cada vez mais severos em todo o mundo têm como uma de suas consequências o desmatamento. No mesmo momento em que a Prefeitura de Baliza decreta situação de emergência por causa da seca, as autoridades fecham os olhos para o desmatamento.

Além disso, a questão da exploração ilegal de madeira não diz respeito somente aos danos ambientais, mas também reflexos negativos no setor  madeireiro legalizado, que gera emprego e renda, além de arrecadação de impostos, principalmente para as pequenas comunidades que têm entre suas fontes de renda a atividade madeireira legalizada, atividade explorada em conjunto com a proteção ambiental de seus territórios. E isso sem contar com a questão das estradas, que ficam prejudicadas pelo excesso de peso dos veículos.

É por isso que as autoridades não podem fechar os olhos para a situação de desmatamento em Roraima, em que o levantamento do Simex apontou um crescimento exponencial de quase sete vezes no período de um ano (584%). As imagens divulgadas pela organização IBNS não podem ser ignoradas, especialmente em tempo das tragédias climáticas e da crítica situação das estradas que prejudicam a vida de pequenos produtores. O fato requer uma resposta imediata por parte das autoridades.

*Colunista

jesseroraima@hotmail.com

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