JESSÉ SOUZA

Entre devaneio e a realidade de um ambiente degradado que precisa de atenção

Inaugurado em dezembro de 2015, Residencial Vila Jardim enfrenta uma realidade de problemas sociais de toda ordem (Foto: Secom-RR)

Já existem pessoas defendendo a ideia de transformar o Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, na zona oeste da Capital, em uma espécie de Esplanada de órgãos públicos federais, o que significaria desapropriar as famílias que ali moram nos 2.992 apartamentos divididos em 121 blocos para transformar esses condomínios em sedes de órgãos públicos de todos os ministérios ou até mesmo dos governos locais.

Essa conjectura não é tão sem sentido assim, pois muitos dos beneficiários já venderam (ou pensam em vender) seus apartamentos, outros estão alugando e muitos estão descontentes com a realidade ali vivida, sem outra opção de moradia. Além disso, as autoridades perceberam que um programa habitacional com apartamentos na vertical não deu certo por aqui, desde o começo, quando foi inaugurado em dezembro de 2015, até os dias atuais.

Largados pelas autoridades e sem qualquer experiência nesta nova modalidade habitacional, os moradores não conseguiram se organizar o suficiente para administrar condomínios, surgindo conflitos de toda ordem e, para complicar a realidade, os problemas sociais passaram a predominar naquele residencial, o que tornou alguns condomínios um ambiente degradado, com espaços ocupados pelo tráfico de drogas.

Nos últimos meses, a Polícia Militar se fez presente no Vila Jardim, com policiamento ostensivo durante todo o dia, além da militarização da escola ali localizada. A realidade até mudou para melhor, com as famílias se sentido um pouco mais seguras, conforme foi relatado em outros artigos com base em declarações de moradores. No entanto, é preciso muito mais do que apenas colocar mais polícia na rua.

Caso a ideia de desapropriação para transformar o local em uma Esplanada seja apenas um devaneio, então é necessário que as autoridades deem um passo maior, além do reforço na Segurança Pública e na militarização do colégio estadual. Trabalhos sociais, de lazer, esporte e cultura precisam ser reforçados, principalmente pensando nas crianças e adolescentes, muitos deles vivendo na ociosidade, o que é um incentivo a permissividades e cooptação pelo tráfico de drogas.

Ações para gerar emprego e renda, além da presença mais efetiva do poder público, precisam ser pensadas também, pois trata-se praticamente de uma cidade acomodada em condomínios onde sequer existe uma praça estruturada para garantir esporte e lazer, muito menos órgãos públicos para atender todo o tipo de demanda ali acumulada. Há problemas de toda ordem que não se resolvem apenas com polícia passando a toda hora.

As autoridades e instituições subsidiadas com dinheiro público poderiam pensar em capacitação profissional, a fim de ajudar aqueles moradores a adquirirem habilidades e conhecimentos visando colocá-los no mercado de trabalho ou se prepararem para acessar empregos melhores e até mesmo para empreender em um local onde há carência inclusive de comércio. Há muitos jovens e adolescentes ociosos que poderiam ser treinados em programas de estágio.

Da forma que a situação está se desenhando, a polícia não irá conseguir manter o controle definitivo sobre a bandidagem, pois o crime está bem organizado e há muito campo aberto devido a omissão do poder público e a ausência de ações para vencer realmente a pobreza, em um Estado onde políticos só pensam em distribuição de cesta básica, mas não como política de assistência social, mas como assistencialismo pensando nas eleições. E isso nunca deu certo.

*Colunista

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