Jessé Souza
Escola do erro 23 04 2015 901
Escola do erro – Jessé Souza* Como jornalista com o título Amigo da Criança, há tempos venho abordando, neste espaço, sobre a erotização da infância por meio da TV e, principalmente, a partir de músicas que vêm acompanhadas de um pacote fechado com danças pornográficas. Muitos pais não apenas permitem como aplaudem suas crianças usando roupas de “mulheres fatais” desde muito cedo e praticando essas danças que mais parecem rituais de acasalamento. E o que era apenas uma exposição da criança a conteúdos impróprios na TV e nas músicas acabou se materializando na imagem de um pai, o MC Belinho, que está explorando sua filha, de 8 anos, a qual recebeu o codinome de MC Melody. Ela participa do show de funk do pai, quando é tratada como “novinha”, faz dança com conteúdo erótico e ainda recebe o tratamento de “mulher fatal”. Quem tiver um pouco mais de interesse no assunto é só acessar o perfil “MC Melody”, no Face, onde é possível perceber que a garotinha já absolveu esse mundo de permissividade, como se fosse uma adulta que mal consegue escrever correto uma frase. As postagens mostram que, há alguns meses, ela reagia às críticas das internautas as chamando de “recodadas”. Somente depois de ser alertada pelos mesmos críticos que a palavra correta seria “recalcada”, agora ela não para de chamar de “recalcado” quem não concorda que uma criança que deveria estar na escola faça o papel de uma “cachorra de funk” sem ter idade para ter escolhido viver essa realidade. Neste caso, o pai assumiu o papel de explorador da imagem da filha, a expondo de forma erotizada e a usando em seus shows para ganhar dinheiro, submetendo a própria filha como se fosse um objeto sexual a serviço da pedofilia. Não se sabe o motivo pelo qual as autoridades que lidam com a infância ainda não agiram para impedir que este mau exemplo sirva de lição a quem acha normal que crianças cada vez mais cedo sejam submetidas ao mercado da erotização disfarçado de música, danças e programas de televisão. Os pais são os maiores responsáveis por coibir que a infância fique exposta ao mercado da “cultura da erotização”. Então, quando eles falham nessa importante missão, é a hora de a sociedade fazer sua parte. Em último caso, cabe ao Estado assumir essa responsabilidade. A legislação avançou, nos últimos anos, para impedir que a infância e a juventude não virem alvos fáceis dos crimes e exploração sexual, inclusive no mundo cibernético. Porém, repousa na família a maior responsabilidade de cuidar da infância. É por isso que este caso da MC Melody precisa chamar a atenção da sociedade. Porque representa a materialização de um pai como algoz da própria filha, logo ele quem tem a maior obrigação de protegê-la. *Jornalista [email protected]