Jessé Souza

Escombro e po 19 02 15 638

Escombro e pó – Jessé Souza* Quando um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) sugeriu a demolição do Monumento ao Garimpeiro, no ano passado, vozes nervosas surgiram por todos os lados atacando o autor da ideia e em defesa do patrimônio histórico e cultural de Roraima. Evidentemente dentro deste discurso estavam incutidos, também, a defesa do garimpo e o anti-indigenismo que foi estimulado nas pessoas em Roraima. Muitas destas vozes se calam quando a agressão ao patrimônio coletivo é atacado, a exemplo do que ocorreu com a construção da Orla da Taumanan, erguida exatamente sobre o primeiro porto de Boa Vista, por onde tudo começou e por meio do qual o Estado de Roraima começou a ser construído. Obviamente que a Capital merece uma orla, assim como qualquer outra cidade ribeirinha ou litorânea. Porém, esta orla em Boa Vista poderia ter respeitado a localização de nosso primeiro porto. Incrivelmente, à  época, não se viu nenhum posicionamento mais forte contra esse atentado ao patrimônio histórico e cultural de nosso povo. Como não há uma política da sociedade roraimense em favor de nossa história, o prédio do antigo Hospital Nossa Senhora de Nazaré, localizado no berço histórico de Boa Vista, ao lado do terreno da Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo, foi ao chão no momento em que as pessoas lançavam confetes e serpentinas na Avenida Ene Garcez. E tudo autorizado pelas autoridades. Como calados estamos e calados ficamos, não vai demorar muito para que outros prédios sejam demolidos, a exemplo da Casa da Cultura, na Avenida Jaime Brasil, antiga sede do governo, e o prédio do Teatro Carlos Gomes, em frente à Praça Capitão Clovis, ambos abandonados ao descaso público. É mais fácil demolir do que revitalizar, pois esse tipo de ação requer esforço, compromisso e recursos que estão cada vez mais escassos para a cultura.  Rende mais votos gastar milhões de recursos públicos com shows de músicas sertanejas e forró a investir na cultura local, como a revitalização de prédios e outros bens que integram o patrimônio cultural. A poeira da demolição do prédio do antigo hospital ao lado da Matriz logo vai sentar e todas as vozes silenciarão. E como já habituamos a aceitar tudo de cabeça baixa, novos destombamentos (se é que havia mesmo tombamento) poderão ocorrer e outros pedaços da história de nosso Estado e do nosso povo podem virar detritos. A construção da Orla Taumanan, da forma que foi projetada, foi o teste definitivo que os administradores públicos fizeram para se certificarem que eles tudo podem por aqui. Então, fica a pergunta: qual será o novo patrimônio a ruir sob nossos olhares complacentes?  *Jornalista [email protected]