Espaço do Leitor

espaco do leitor 10 09 2018 6892

E se o impeachment não tivesse acontecido?

Percival Puggina*       Na semana passada completaram-se dois anos do impeachment de Dilma Rousseff. Por isso, os ponteiros do relógio da história sinalizam momento adequado para examinarmos se foi útil e oportuna a mobilização nacional que levou àquele desfecho. O tema, aliás, tem motivado ponderações de alguns leitores.

Capitaneados pelo PT, os partidos de esquerda qualificam o episódio como “golpe”, desatentos a suas múltiplas causas e ao longo e cuidadoso procedimento jurídico e político em que se desenrolou sob os olhos da opinião pública e sob a lupa jurídica do STF. Esquecem, também, que a oposição “golpista” conviveu democraticamente com a primeira vitória de Lula, tolerou o escândalo do mensalão, reconheceu a segunda vitória de Lula, conviveu com a primeira vitória de Dilma e com a segunda vitória de Dilma. Foi a imensa mobilização popular de protesto contra seu desastroso governo no dia 15 de março de 2015 que desencadeou o processo jurídico-político do impeachment. Dezessete meses mais tarde, ele culminaria com a perda do mandato presidencial.

Vamos agora ao futuro do pretérito. Não costuma ser fácil discorrer sobre como as coisas teriam acontecido se conduzidas de outro modo. Neste caso, porém, é fácil, sim. O PT ajuda. Em agosto de 2016, o país afundava no terceiro ano consecutivo de recessão. Deslocado do governo para a oposição, o PT votou contra as tímidas reformas graças às quais, Temer, conseguindo apoio parlamentar, estancou a recessão. Agora, em campanha eleitoral, não deixando margem a dúvidas, o partido reitera a intenção de acabar com elas de vez. Se o impeachment não tivesse acontecido, o Brasil estaria no rumo seguido pela Venezuela.

Tem mais. Sem o impeachment, o PT estaria disputando esta eleição com apoio da máquina governamental, teria mantido as fontes de financiamento e os empregos de sua militância. E o candidato seria Lula. Com efeito, todos sabem ser escassamente majoritária a posição do STF em favor do combate à corrupção, da Lava Jato, da colaboração premiada, e da prisão após condenação em segunda instância. Esta última foi mantida graças ao voto “pró-colegialidade”, proferido pela ministra Rosa Weber. Se Dilma continuasse presidente, teria cabido a ela indicar o substituto de Teori Zavascki. Alexandre de Moraes não seria membro da Suprema Corte e a base petista no STF se ampliaria decisivamente. A “sangria” teria parado, a Lava Jato secaria e o Mecanismo retomaria o ritmo de seus negócios.

O impeachment de Dilma Rousseff foi decisão certa no momento certo.

*Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

Eleição livre

Tom Zé Albuquerque*

Imagine um país o qual parte da população defende a candidatura de um político, há meses preso, condenado por corrupção, após, sustentadas sentenças em várias instâncias, frutos de exaustivas investigações por parte de reputados magistrados. E mais, o encarceramento atual é consequência de apenas uma das outras inúmeras acusações esteadas na justiça.

As sanções ao quase candidato, de tão explícitas, em muito se alinham com o comprovado e espantoso enriquecimento fenomenal do condenado e sua esposa, já falecida e injustamente acusada (pós-morte) de ser responsável por caprichos que levaram o esposo a se locupletar. Sim, o Brasil pariu um dos maiores malandros da política brasileira, aquele que assenta a prática do “em tudo se dá um jeitinho”, ou “se é companheiro, tá dentro” e, preconceituosamente, ausculta: “cadê as mulheres do grelo duro de nosso partido?”. O autor dessas asneiras chama-se, como se deu para notar, lula.

Esse energúmeno também já elogiou Adolf Hitler e Khomeini, dois sanguinários que, dispensam apresentação por horrorizarem o mundo ao tratarem seres humanos como escória, sempre que contrariedades ideológicas fossem pautadas. Quando ainda presidente do Brasil, lulão, ao passear pela África, disparou: “A escravidão é como dor de cálculo renal, não tem explicação, só sentido”. Para essa asneira, o conceituado jornalista José Simão discorreu… “E eu acho que o governo lula é como exame de próstata, não tem explicação, só sentido”.

Por falar em África, o preso tríplex em mais uma visita àquele continente, curtiu o momento dizendo: “Eu fui ao Gabão aprender como um presidente consegue ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar à reeleição”. Bem, considerando as raízes de amizade do bizarro ex-presidente tupiniquim com Hugo Chavez (o mesmo que recebeufortunas de dinheiro público brasileiro para fomentaraditadura venezuelana), presume-se que a perpetuação de poder é uma espécie de tara do ex-sindicalista. Ou era até o Superior Tribunal assegurar o axiomático: que presidiário não pode representar o povo. 

Estranho a suprema corte de um país ter que decidir o óbvio. É sinistro não só a candidatura, como o pedido de deferimento, como o julgamento e, mais bizarro, ter brasileiro vislumbrando que um facínora possa reassumir o desenrolar político de uma nação. O mais engraçado é que os que defendem o famigerado “lulalivre” se projetam como esquerdistas, contrariando a fala do próprio ex-presidente, em 2003: “Todo mundo sabe que nunca aceitei o rótulo de esquerda”. E, pasmem, nesse quesito ele foi, inacreditavelmente, autêntico, visto que no governo lulático os banqueiros se empanturraram de dinheiro às custas do suor dos brasileiros, especialmente os mais carentes e os empreendedores de micronegócios.

Nunca esqueci quando, em 2005, o lulão, em prol do postulado que “tudo pode”, proferiu a surpreendente frase: “Diga ao Roberto Jefferson que sou solidário a ele. Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade”, sem saber que mais tarde o deputado condenado e inelegível, tão seu aliado, seria um homem-bomba de seu governo. No mesmo ano desferiu a nojenta frase: “O PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil, sistematicamente”, ao, segundo sua índole, sugerir que o caixa-dois não é nada de mais. 

O Brasil está livre de um dos seus tumores, pelo menos temporariamente. A anarquia e a velhacaria estão em declínio e somente ausência de vícios e muita coragem do próximo Presidente pra reverter o enxerto da vagabundagem nos mais diversos flancos sociais.

*Administrador

Mais uma perda imensurável, queimam nossa história

Vera Sábio*

Só temos presente, pois tivemos passado, e o mais triste é que o passado foi queimado, simplesmente pela ambição e corrupção desmedida. E agora? Quem somos nós? Não pense que é exagero, afinal temos digitalizado, fotografado e guardado de outras maneiras o concreto, palpável e estudado, o que tínhamos presente no nosso mais valioso Museu. Mas isto só será declarado por quem não tem coração, por quem não tem noção e respeito pelo patrimônio de valor histórico incalculável, que perdemos por puro descaso.

O fogo da corrupção mata demais, mata nos hospitais, nas escolas e na cultura. Mata a memória de um povo e a base de estudo de muitos; faz o coração ser de pedra que nem o fogo amolece, pois roubaram dinheiro da reforma do Museu, por anos, e ainda não se sensibilizaram com isso.

Bens históricos que meus olhos nunca viram, mas graças a Deus não faço parte dos insensíveis e sinto demais esta enorme perda. Quando será que teremos a sorte de vermos em chamas, a grande corrupção desmedida, para que o Brasil pare de morrer? Muitos querem “omeletes”, mas não querem quebrar os ovos; o que se torna impossível.

Quanto
mais a realidade é estampada, mais sentimos a urgência de um pulso firme, de uma grande revolução, onde os valores sejam outra vez embutidos e realmente as pessoas entendam o que são valores, o que é moral, o que é respeito e o quanto é louvável e nosso direito, sermos honestos. Não vamos deixar estas eleições mais uma vez, como algo morno, vendido, sucateado e sem direito de governantes que façam seu papel com honradez, para que de alguma outra maneira consigamos refazer nossa história.

*Psicóloga, palestrante, escritora, servidora pública, mulher, mãe e cega com grande visão interna. Compre meu livro “Enxergando o Sucesso com as Mãos” na livraria Nobel, no Gardem, ou (95) 99168-7731. [email protected]

Chorar pra quê?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nesta vida, os erros e a ignorância expiam-se como se fossem crimes.” (Armando Pelácio Valdés)

Expiam-se, sim. Nós é que nem percebemos. E sempre estamos cometendo “crimes” contra nós mesmos, na ignorância da crítica, e por aí afora. Nem mesmo prestamos atenção a ensinamentos que nos vêm mesmo de onde não há ensinamentos. Quem chegar, hoje, à Praça Mauá, no Rio de Janeiro, encanta-se, se a conheceu setenta anos atrás. A construção do Museu do Amanhã, na sua extraordinária arquitetura, de certa forma, mudou tudo em termos de visão. Verdadeiro espetáculo. E aqui vai uma sugestão: se você for ao Rio de Janeiro não deixe de visitar o Museu do Amanhã. Ele nos indica o que devemos fazer para viver o amanhã, evitando desastres como o do Museu Nacional do Rio de Janeiro, dias atrás. 

Mas, voltemos à Praça Mauá. Foi lá que no iniciozinho da década dos cinquentas, aprendi muito com a marujada. Naquela época, os bares, que já não existem mais, estavam sempre lotados de marinheiros. E como falavam aqueles caras. E foi com eles que aprendi frases que uso muito, por aqui, como por exemplo: “Bronca é ferramenta de otário”. Eles falavam muito isso, sempre que alguém ficava brabo com alguém. “Na base do agrião,” era outra que eles usavam muito, num cumprimento a alguém. Certa vez perguntei a um marinheiro o significado da frase e ele me explicou: “Quer dizer que tudo está bem, porque o agrião é o melhor tempero para uma rabada.” E como se fazia rabada, naquele tempo, nos bares de esquinas.

Aprendi pra dedéu, com aqueles caras. Depois me afastei e continuei aprendendo na Universidade do Asfalto. E ainda continuamos a não dar importância à importância que essa Universidade tem na nosso formação, e evolução racional. E é na Universidade do Asfalto que realmente aprendemos a viver a vida como ela deve ser vivida. Porque quem não se atenta e aprende, passa pela vida sem viver. Não vive o tempo, deixando que este o leve. E só quando aprendemos a viver, aprendemos que nossas vidas estão numa contagem regressiva.

Quando nos alegramos com mais um ano vivido não nos atentamos que estamos contando um ano a menos, no calendário da vida. Então por que perder tempo com aborrecimentos e coisas que não nos tragam benefícios? O bem e o mal fazem parte da vida. Então escolhamos o que nos convém. Uma escolha que só você pode fazer pra você. Ninguém mais, além de você mesmo, tem esse poder. Então escolha o melhor e deixe no baú do esquecimento o resto que é resto. Faça isso nas próximas eleições, mas sem nhem-nhem-nhem. Escolha o melhor e deixe o pior pra lá. Mas seja sensato. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460