Bom dia,

Hoje é segunda-feira (15.06). Além de enfrentar a pandemia da Covid-19, os brasileiros e as brasileiras estão sendo obrigados a assistir incrédulos uma discussão que de tão anacrônica e desnecessária, chega a ser ridícula. Trata-se dessa história de que as Forças Armadas seriam uma espécie de poder moderador que poderiam ser chamadas; por seu chefe supremo, o presidente da República, para dirimir conflitos entre os três poderes. Toda essa tola, mas urdida adredemente, está vindo à propósito de algumas decisões tomadas por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) -algumas que atropelam claramente a competência deles-, e que incomodam e irritam o presidente da República e alguns de seus principais auxiliares. Para fazer valer essa esdrúxula tese, estão sendo utilizados até mesmo poucas dezenas de militantes radicais para intimidar a Suprema corte.

Ora, faz algum sentido isso? O Brasil virou República Federativa (formado por estados, municípios, Distrito Federal e Territórios Federais) em 1899, sob um golpe militar comandado pelo enfermo marechal Deodoro de Mendonça; e por cópia dos Estados Unidos da América foi organizado com três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) independentes e harmônicos entre si. Dois desses poderes (Executivo e Legislativo), são constituídos através do voto popular -e deve ser renovado a cada quatro anos-; o terceiro (Judiciário) tem a cúpula (Supremo Tribunal Federal) de seus integrantes submetida também ao voto, pela via indireta, já que devem ser apreciados e aprovados pelo Senado Federal, embora não tenham mandatos com prazo determinado; o que é uma lástima.

Essa exigência de provimento dos integrantes dos poderes da República através do voto popular, pela via direta ou indireta, está compatível com a Constituição Federal que prescreve: Todo poder emana do povo, e em seu nome será exercido. Ora, para ser poder uma instituição precisa passar pelo crivo do povo; e ponto final. Os integrantes das Forças Armadas são servidores públicos do Estado, chegam a seus postos por concursos e merecimento, sem chancela popular; logo nunca serão poder, e muito menos moderador, que só existiu no Brasil, exercido pelo imperador que era o chefe de Estado, durante o Segundo Império. O resto é discurso idiota que toma tempo, num momento em que nossas preocupações deveriam estar voltadas unicamente ao combate da pandemia e à reconstrução da economia.

DESASTRE

O anúncio pelo governador do estado, Antônio Denárium (sem partido), de que até 27 pacientes graves acometidos pela Covid-19, e que precisam ser internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), seriam transferidas para Manaus em aviões do Exército, foi segundo observadores e especialistas, um desastre do ponto de vista político. “É triste ver um governador, que deveria anunciar medidas concretas para atender a população doente, transformado em arauto da desgraça”, disse um ex-parlamentar federal de Roraima. De fato, a repercussão da notícia foi a pior possível tanto pela imprensa séria, quanto pelas redes sociais. O anúncio foi recebido como uma declaração explícita de incapacidade para atendera população.

DÚVIDAS

Além da indignação geral, o anúncio de que pessoas em estado mais grave seriam levadas para em Manaus veio cercado de inúmeras dúvidas, entre as quais: Teriam esses enfermos direito de ser acompanhados por parentes? Quantos? Onde eles ficariam hospedados na capital amazonense? Se os pacientes vierem à óbito, serão enterrados naquelas covas feitas pela Prefeitura de Manaus, e que parecem destinadas a animais? Se, conseguirem vencer a crise, como e quando, esses pacientes retornarão para Boa Vista? Decididamente, são respostas que as famílias desses infelizes pacientes, vítimas do vírus, e da incompetência das autoridades locais estão sendo esperados.

ABORRECIDO 1

Apesar da elegância, do cuidado com as palavras, e da habilidade com que colocou os problemas que impedem a abertura do hospital de campanha do Exército, o coordenador da Operação Acolhida, general Barros, não conseguiu esconder sua contrariedade quanto a falta de providências, do Governo do Roraima e da Prefeitura de Boa Vista, que permitam a abertura daquela unidade hospitalar. À título de exemplo, o general Barros citou que em apenas 15 dias, o Hospital Sírio Libanês que está colaborando com o Exército, a pedido do Ministério da Saúde, para a abertura do hospital de campanha já providenciou cerca de 80% dos insumos necessários para o funcionamento dos primeiros 80 leitos da Área de Proteção e Cuidado (APC).

ABORRECIDO 2

As afirmações do general Barros foram feitas ontem de manhã, domingo (14.06), à jornalista Cida Lacerda, durante o programa Agenda da Semana, da Rádio Folha FM 100.3. O coordenador da Operação Acolhida enumerou o que falta ainda de profissionais, devidamente treinados, da área médica e paramédica para o funcionamento inicial (80 leitos) da APC, que seriam supridos ainda hoje (segunda-feira), ou até amanhã (terça-feira) pelo governo estadual e pela prefeitura municipal de Boa Vista. Demonstrando ceticismo, o coordenador da Operação Acolhida disse que é preciso que os profissionais sejam encaminhados fisicamente para a APC. “De nada adianta mandar listas, porque elas não são suficientes para fazer começar os trabalhos”, disse o general Barros.